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Diniz (Julio)

Joaquim Guilherme Gomes Coelho, o eminente romancista que em todos os seus escritos adotou o pseudônimo de Julio Diniz, tem a sua existência ligada à história desta ilha, porque várias vezes a visitou e nela escreveu um dos seus mais conhecidos e primorosos livros.

Atacado de uma pertinaz doença pulmonar, veio pedir à benignidade do nosso clima lenitivo aos seus padecimentos e procurar aqui esse ideal que se chama saúde, segundo a sua própria e já desalentada expressão.

Chegou pela primeira vez ao Funchal a 8 de Fevereiro de 1869 e aqui voltou nos anos de 1870 e 1871. Conforme umas notas publicadas na antiga revista Serões e que temos por fidedignas, Julio Diniz habitou, embora por pouco tempo numa casa aos Ilhéus onde já residiu o distinto advogado Nuno Ferreira Jardim, e mais demoradamente num prédio à rua da Carreira, pertencente à família do falecido comerciante Antonio Pinto Correia, em cujo rés-do-chão se acha instalada uma farmácia, e que fica quase fronteiro à rua de São Francisco. A Câmara do Funchal praticaria um ato, que todos os seus munícipes olhariam com reconhecido louvor, mandando colocar naquela casa uma simples placa de metal, que mais não pudesse ser, comemorando a estada na nossa terra de um dos maiores vultos da nossa literatura contemporânea.

Julio Diniz escreveu nesta cidade o seu notável romance Os Fidalgos da Casa Mourisca que alguns julgam superior e muitos colocam no plano das Pupilas do Senhor Reitor e da Morgadinha dos Cannaviaes. Durante trinta e tantos anos se conservou inédita uma extensa carta que escreveu da Madeira e em que a largos traços descreve as suas incomparáveis belezas, comunicando a um amigo as impressões pessoais recebidas ao chegar à formosa ilha que se levanta da espuma do mar com a mitológica Citheréa... segundo uma frase do grande escritor. É um trecho de bela e sugestiva prosa, que pela primeira vez se publicou na citada revista os Serões e que foi reproduzido no livro de escritos inéditos de Julio Diniz intitulado Inéditos e Esparsos. Nesta obra publicaram-se 17 cartas de Julio Diniz, escritas no Funchal, sendo a última datada de 20 de Fevereiro de 1870. Na edição desta obra, de 1919, insere 31 cartas escritas no Funchal, omitindo 7 daquela edição, o que perfaz a totalidade de 38. O Diário da Madeira, de 24 de Agosto de 1919, publicou mais duas cartas inéditas do grande romancista também datadas da Madeira.

O grande romancista demorou-se nesta ilha nos períodos decorridos de Março a Maio de 1869, de Outubro de 1869 a Maio de 1870 e de Outubro de 1870 a Maio de 1871. Durante a sua permanência no Funchal, manteve a mais estreita intimidade com o seu patrício e amigo o cónego Dr. Custódio de Morais e Brito, que era homem de não vulgar talento e de rara ilustração.

As seguintes palavras foram encontradas num livro manuscrito do ilustre escritor e eram do seu próprio punho: "Principiei a escrever Os Fidalgos da Casa Mourisca, no Funchal, em Março de 1869. Levava-o em meio do capítulo 8.º quando voltei de Porto em Maio do mesmo ano. Trabalhei no Porto e escrevi até o princípio do capítulo 17.º, desde Junho até Outubro, época em que voltei para a Madeira. Concluiu-o no Funchal em 11 de Abril de 1870".

Julio Diniz morreu no Porto a 12 de Setembro de 1871, quatro meses depois de sair da Madeira, tendo apenas 31 anos de idade.

Pessoas mencionadas neste artigo

Antonio Pinto Correia
Falecido comerciante, proprietário do prédio onde Julio Diniz residiu mais demoradamente.
Custódio de Morais e Brito
Cónego e amigo de Julio Diniz, homem de talento e rara ilustração com quem o escritor manteve estreita intimidade.
Joaquim Guilherme Gomes Coelho
Eminente romancista conhecido pelo pseudônimo de Julio Diniz, visitou a Madeira várias vezes e lá escreveu um de seus mais conhecidos livros.
Nuno Ferreira Jardim
Distinto advogado em cuja casa Julio Diniz habitou por pouco tempo.

Anos mencionados neste artigo

1869
Julio Diniz chegou ao Funchal e iniciou a escrita de *Os Fidalgos da Casa Mourisca* em Março, voltando para o Porto em Maio.
1870
Voltou para a Madeira em Outubro de 1869 e concluiu o romance *Os Fidalgos da Casa Mourisca* no Funchal em 11 de Abril.
1871
Julio Diniz morreu no Porto, quatro meses após sair da Madeira.

Localizações mencionadas neste artigo

Funchal
Chegou pela primeira vez em 8 de Fevereiro de 1869 e voltou nos anos de 1870 e 1871. Escreveu o romance *Os Fidalgos da Casa Mourisca* e manteve estreita intimidade com o cónego Dr. Custódio de Morais e Brito durante sua estadia.