Bucho encostado
O padecimento conhecido por esta designação na Madeira, parece ser devido a uma torsão ou a uma contracção espasmodica do intestino, e costuma ser tratado pelas curandeiras por meio de repetidas fricções com a mão untada com azeite, fricções que elas fazem acompanhar das palavras seguintes, que se devem dizer nove vezes: assim como a murta se abriu e se tornou a cerrar, assim isto é verdade. Nosso Senhor queira pôr este bucho, este ventre, esta coelheira no seu lugar. Depois de breve descanso, diz ainda a curandeira 9 vezes: coelheirinha, vai ao teu lugar, bucho, vai ao teu lugar. O doente conserva se deitado de costas enquanto é friccionado.
Finaliza o tratamento por a curandeira lançar azeite ou banha em duas folhas de couve aquecidas ao fogo, e colocar uma no ventre do doente, e outra na região oposta, em geral um pouco acima do cóccix. Se as fôlhas no dia imediato ao do tratamento se apresentarem secas, é porque o bucho estava encostado; se se apresentarem verdes ou murchas, o bucho estava direito, cumprindo então ao doente recorrer a outros meios para procurar alivio para os seus padecimentos.
O que há de ridículo no modo de tratamento que deixamos indicado, são as palavras que a curandeira profere com o fim, segundo parece, de forçar o bucho a voltar ao seu lugar; quanto às fricções ou maçagens, não ousamos contestar a sua eficácia, já porque se citam numerosos casos de cura obtidos por meio delas, já porque a medicina também as considera úteis nos padecimentos que procedem das causas que atrás indicámos.