Barradas (Diogo)
Falando Gaspar Frutuoso das filhas de Tristão Teixeira, primeiro capitão donatario de Machico, acrescenta, sem parecer haver íntima relação com os antecedentes, o seguinte: E este capitão Tristam, por uma desgraça que aconteceo em sua casa a hum Tristam Barradas, homem havido por fidalgo, o qual este capitam castigou e o teve aferrolhado com huma braga moendo em hum moinho farinha. El Rey o mandou hir à corte, e que levasse comsigo sua filha Catharina Teixeira (como fica dito): esteve preso em Lisboa pelo castigo que fez ao Barradas, e por sentença foi degradado para a Ilha do Principe, e antes que fosse, casou El Rey sua filha mui honradamente: alguns anos esteve neste desterro, no fim dos quaes El Rey o mandou vir, e o restituhio outra vez na Capitania, e governou ainda muitos annos depois disso.
É um episodio curioso dos costumes da época e que dá a medida do despotico poder dos donatarios nos tempos primitivos da colonização, cujas atribuições civis e criminais eram tão latitudinarias, que só excluíam o julgamento das causas de morte ou talhamento de membro, como se pode ler no artigo Administração Judicial.
Com respeito ao episódio que fica sumariamente narrado, deve ler se o documento que vem transcrito a pag. 138 da edição das Saudades da Terra de 1925, que é sobremaneira interessante e nos dá uma ideia aproximada da maneira como se administrava a justiça no tempo dos donatarios.