Atlantida (Ilha)
Segundo Platão, o celebre filosofo grego da antiguidade, a Atlantida ficava situada aquém das Colunas de Hercules, era maior que a Africa e a Asia reunidas e desapareceu no espaço de um dia e de uma noite, em virtude de uma formidável convulsão do globo.
Por largo tempo se considerou como simplesmente fabulosa a narração de Platão, mas hoje que a ciência procura estabelecer o seu dominio até sobre os pontos mais recônditos do globo, pode dizer-se que se a existência da Atlantida não adquiriu ainda foros de verdadeira, também não pode ser considerada impossível.
Refere o Sr. Termier no numero 256 do Boletim do Instituto Oceanografico de Mónaco, que tendo rebentado no verão de 1898 o cabo telegrafico que vai de Brest ao cabo Cod, notaram os indivíduos encarregados de o levantar do fundo do mar, que ele se prendia com frequência em rochas de pontas agudas arestas vivas, de que as fateixas traziam alguns fragmentos. Recolhidos e estudados estes fragmentos, reconheceu-se que pertenciam a uma lava vitrea denominada traquilite, com a composição química dos basaltos, a qual no estado em que se apresentava, só podia ter consolidado sob a pressão atmosferica.
Como as rochas a que nos referimos fôssem encontradas a três mil metros de profundidade e a novecentos quilómetros ao norte do arquipelago dos Açores, concluiu o Sr. Termier dos factos que ficam apontados, que naquela região do globo deveria ter existido um continente que depois se submergiu, continente do qual bem poderia fazer parte o referido arquipelago, o qual está situado, como se sabe, na zona vulcanica atlântica. Entre a emissão das lavas e a submersão do mesmo continente deveria ter mediado um curto espaco de tempo, pois que do contrario teria a erosão atmosférica nivelado e aplanado a superficie das rochas.
Para o professor Eduardo Forbes, todas as ilhas do Atlântico deveriam ter estado unidas numa época recente á Europa ou á Africa, e para Unger e o Dr. Heer, a hipótese da existencia da Atlantida nada oferecia de extraordinaria, pois que só ela poderia explicar satisfatoriamente as afinidades notadas pelos naturalistas entre as produções das mesmas ilhas e as dos continentes próximos.
Demonstrada, porém, como está pelos notáveis trabalhos de Darwin, que não só muitas sementes de plantas, mas também certas espécies animais podem ser transportadas pelos ventos, pelas aves e até pelas correntes marítimas a grandes distancias, desnecessário nos parece recorrer ás referidas hipóteses para explicar a presença nos arquipelagos do Atlântico, de uma fauna e uma flora variadas.
A Atlantida de Platão parece-nos diferir um tanto da Atlantida concebida pelos naturalistas, mas quer consideremos com uma ilha essa região verdadeira ou fabulosa, quer como um prolongamento dos actuais continentes, o que parece certo é que a Madeira e as ilhas próximas nada têm que ver com ela. A estrutura geológica destas ilhas, a grande profundidade do mar que as rodeia e a ausência em todas elas dos pequenos quadrupedes que abundam nos continentes próximos, levam-nos a crer que o nosso arquipelago é uma criação independente, e não uma relíquia de vastos territórios agora submergidos.
O que dizemos acerca da Madeira, talvez tenha aplicação aos arquipelagos vizinhos, não obstante a opinião emitida pelo Sr. Termier a respeito da origem das ilhas dos Açores. Diz este geólogo que para haver o direito de afirmar que as ilhas Canárias são fragmentos de um continente submergido, seriam necessárias certas observações locais, não realizadas até o presente.
No nosso humilde entender a hipótese formulada por alguns geólogos de que os arquipelagos do Oceano Atlântico estiveram ligados á Europa, á Africa e talvez á América, num período geológico recente, não vai de acordo com o que se sabe acerca dos mesmos arquipelagos, muito embora seja licito acreditar que aquele mar banhou já vastissimas terras, que se submergiram numa época de ruínas e de cataclismos de que não é possível precisar o inicio nem a duração.