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Porto do Funchal

É a baía do Funchal a mais ampla do arquipélago e tem como limites a Ponta do Garajau, a leste e a Ponta da Cruz, a oeste. Desenvolve-se numa curvatura e reentrancia sensivelmente regulares entre aquelas duas pontas, achando-se ao abrigo dos ventos de todos os quadrantes, com excepção do vento que sopra de SSE a SSW pelo S. A sua amplidão permite fazer dela um vasto ancoradouro, mas as comunicações com a terra só podem estabelecer-se com relativa facilidade nos pontos mais acessiveis da costa maritima, que se estendem desde o Ilhéu da Pontinha, a oeste, até ás proximidades da fortaleza de São Tiago, a leste, afastados um do outro cêrca de dois mil metros. Dentro destes limites se realiza todo o tráfego e movimento do Porto, sendo este limitado por uma praia de calhaus rolados, de grande fundo e livre de restingas ou cachopos, que possam dificultar o seu acesso. A preamar ou o estabelecimento do Porto, segundo a carta geografica da Madeira do general A. P. de Azevedo, é ás 12h e 48m, sendo a elevação da maré de 2m,28, afirmando porém, o engenheiro Mariano F. Faria e Maia que as amplitudes das marés chegam a 2m,80. Com respeito ao Porto do Funchal e marés do litoral da Madeira, diz o ilustre engenheiro Adolfo Loureiro «que pouco se conhece acêrca das influencias lunares no fenomeno das marés vivas e mortas, propagação, velocidade e direcção que nelas se observam, altura e fôrça da vaga conforme o rumo do vento, o seu impulso, duração, etc.. A temperatura das aguas e a sua distribuição á superficie, os seus movimentos periodicos e condições, seguindo uma lei que parecia constante, deveriam passar a ser objecto de estudos oceanograficos muito interessantes, que infelizmente não se fizeram nunca».

É de 520 milhas a distancia a que se encontram os portos de Lisboa e do Funchal, ficando este ultimo aproximadamente afastado 350 milhas do Cabo Cantim (V. este nome), 1220 de Plymouth, 1330 de Southampton e 1430 de Liverpool.

É de verdadeiro interesse e reconhecida utilidade apresentar-se aqui uma nota circunstanciada do movimento do Porto do Funchal nos ultimos anos, não só para aquilatar-se do desenvolvimento comercial e turistico verificado entre nós, mas ainda para servir de elementos de estudo acêrca dos melhoramentos que num futuro proximo tenham ainda, porventura, de realizar-se dentro dos limites do nosso Porto de abrigo.

No artigo

  • Movimento do Porto *

(II-409), encontra-se uma informação desse movimento relativa ao periodo decorrido de 1901 a 1943, que serve de complemento ao que deixámos exposto.

Convém advertir que o notavel decrescimento que se nota no movimento do Porto do Funchal, no periodo decorrido desde o ano de 1914 foi devido á grande conflagração europeia, que afastou da Madeira um numero consideravel de embarcações, indo gradualmente aumentando, até que no ano de 1937 chegou a ser de 1438 embarcações. Com a recente guerra mundial, ainda se tornou maior esse decrescimento sendo de 389,234,190 e 187 o numero de navios entrados nos anos de 1940 a 1943.

Extraídas do acreditado periodico «Jornal do Comercio e das Colonias» e da pena do dr. C. Dias de Carvalho são as interessantes e valiosas informações que em seguida apresentamos acêrca do Porto do Funchal.

«Os portos das Ilhas Adjacentes classificam-se, segundo o grau de importancia, pela seguinte ordem: Funchal, Ponta Delgada, Horta e Angra. Antes, porém, convém darmos uma ideia do seu movimento em conjunto.

As mercadorias carregadas e descarregadas nesses portos, em 1936, sobem a cêrca de 251 mil toneladas com um valor de 132 mil contos aproximadamente.

Ao Porto do Funchal compete a quasi totalidade deste movimento, com 88,63 % da tonelagem e 82,76 % do valor global; segue-se-lhe o de Ponta Delgada, respectivamente, com 6,97 % da tonelagem e 11,52 % do valor; vem depois o da Horta, com uma tonelagem de 4,21 % e Angra com 3,56 % do valor e finalmente, Angra com 0,19 % da tonelagem total e Horta com 2,16 % do valor.

Vista assim de uma maneira rápida a posição que ocupa cada um destes portos relativamente às quantidades de produtos movimentados nos seus cais, passemos a uma análise mais detalhada em relação a cada um deles.

Dissemos já que este Porto é o mais importante das Ilhas Adjacentes e vem ocupar o quarto lugar da escala geral dos portos do Continente e Ilhas, logo a seguir ao de Setubal.

O seu movimento foi superior ao de Leixões, e, quanto a tonelagem importada, o Porto do Funchal coloca-se em uma situação superior ao proprio Porto de Setubal.

As mercadorias importadas e exportadas por aquele Porto da Ilha da Madeira atingiram no ano de 1943 222.258 toneladas, com um valor de 109.203.000$00.

Vejamos o que nos dizem os numeros relativos ao comércio de importação e de exportação.

Importaçao. O total das importações efectuadas pelo Porto do Funchal, em 1936, sobe a 95.096 toneladas, cujo valor monta a 58.652 contos. Seguidamente, fazemos uma discriminação destas quantidades e valores, segundo as diferentes rubricas pautais:

Animais vivos – A importação resume-se a toneladas com um valor de 28 contos.

Matérias-primas – A esta classe pertence a maior tonelagem, tendo sido importadas de diversos produtos 73.963 toneladas, elevando-se o seu valor a 16.665 contos.

Fios e tecidos – Destas mercadorias, descarregaram-se no Porto do Funchal 565 toneladas mas, com um valor de 17.096 contos, isto é, a classe a que compete o valor mais alto na importação.

Substancias alimentícias – Os produtos pertencentes a esta classe figuram em segundo lugar no que respeita á quantidade – 19.216 toneladas – e em terceiro quanto ao valor – 14.664 contos.

Máquinas, aparelhos, etc. – A importação destes utensilios é já menor, figurando apenas 410 toneladas com um valor de 5.400 contos.

Manufacturas diversas -É também relativamente pequena a quantidade de artefactos importados – 891 toneladas –,cujo valor se eleva a 4.790 contos. Precisamos, no entanto, de ter em conta a extensão da Ilha e as necessidades da sua população, a fim de não apoucarmos estes valores.

Em resumo: os produtos que na importação mais movimentaram o Porto do Funchal (em tonelagem, é claro) acham-se incluidos nas classes a seguir indicadas, pela sua ordem de importancia: 1.°) materias-primas; 2.°) substancias alimenticias; 3.°) manufacturas diversas; 4.°) fios e tecidos; 5.°) maquinas, aparelhos, etc., e 6.° animais vivos.

Quanto aos valores a ordem é já outra, como fàcilmente se poderá verificar pelos numeros já citados.

Exportação – Examinemos agora o movimento comercial de exportação relativo a 1936, o qual se traduz pela saída de 127.162 toneladas de produtos avaliados em 50.551 contos.

Obedecendo ao criterio seguido para a importação, vamos igualmente fazer a apreciação deste movimento, tendo em vista a classificação pautal das mercadorias.

Matérias-primas – A exportação dos artigos incluídos nesta classe movimentou a maior tonelagem do Porto do Funchal, elevando-se a 118.649 toneladas. O valor destas exportações foi de 10.469 contos.

Fios e tecidos – Por esta rubrica se classificam os interessantes bordados da Ilha da Madeira, de fama mundial, não sendo para estranhar que a maior verba compita a esta classe, na exportação, que se eleva a 25.004 contos, relativos a 238.000 quilos de produtos.

Substancias alimentícias – Figuram em segundo lugar na exportação, os produtos alimentares, tanto em quantidade – 8.207 toneladas, como em valor – 14.891 contos. Nestes produtos estão incluidos os célebres vinhos da Madeira, bananas, etc..

Quanto ás duas restantes classes: máquinas, aparelhos, etc., e manufacturas diversas, a tonelagem exportada correspondente a cada uma delas foi de 3 e 65 toneladas, e os valores de 24 e 163 contos.

A este assunto oferecem particular interesse, pelas detalhadas informações que encerram, os artigos

Cais, Funchal (Praia do),

Junta Autónoma das Obras do Porto, Madeira (Aspectos hydrográficos), Marés, Movimento do Porto, Naufragios, Navegaçâo Aérea e Pontinha

, para os quais chamamos a atenção dos consulentes.

Pessoas mencionadas neste artigo

A. P. de Azevedo
General
Adolfo Loureiro
Ilustre engenheiro
C. Dias de Carvalho
Dr.
Mariano F. Faria e Maia
Engenheiro

Anos mencionados neste artigo

1901
Periodo decorrido de
1914
Ano de notavel decrescimento
1936
Mercadorias carregadas e descarregadas
1937
Ano de 1438 embarcações