Abreu (António de)
Foi este madeirense um dos portugueses que por terras do oriente mais se ilustraram na faina das conquistas e descobertas, tendo já antes, em Marrocos, dado assinaladas provas da sua notável coragem e valentia.
Era filho de João Fernandes de Andrade, que ficou sendo conhecido por João Fernandes do Arco, por ter tido muitas terras de sesmaria no Arco da Calheta e haver sido o primeiro povoador desta freguesia.
Depois de ter militado em Marrocos, passou à Índia em 1511 e acompanhou Afonso de Albuquerque numa expedição ao Mar Roxo, onde muito se distinguiu. Tendo sido ali ferido, e querendo Albuquerque fazê-lo substituir no posto que ocupava, retorquiu ao grande capitão que se tinha as forças perdidas para pelejar e a língua impedida para mandar, ainda lhe restava a vida para perder e enquanto isso não acontecesse não largaria o lugar que ocupava.
Tendo assistido à tomada de Malaca, diz Pinheiro Chagas, foi pelo grande general português encarregado de ir reconhecer e explorar as Molucas, ilhas de cujas grandes riquezas se diziam maravilhas. Partiu António de Abreu com três navios, sendo capitão dum deles o próprio chefe da esquadrilha, do outro Francisco Serrão, e do terceiro Diogo Afonso. Bem artilhados, e levando 120 homens a bordo, partiram os três navios de António de Abreu, de Malaca em Novembro de 1515.
Foram António de Abreu e os seus companheiros seguindo a costa da ilha de Samatra, e passando depois para a de Java, seguiram por Madeira, Bali, Sumbava, Solor e ainda Nova Guiné. Abordou, finalmente, António de Abreu a Amboino, e Francisco Serrão perdeu o navio em Ternate, mas salvou-se com a guarnição, e foi muito bem acolhido pelos naturais. Visitou, pois, António de Abreu as principais Molucas, e voltou trazendo riquíssima carregação.
Mas Major, no notável trabalho, que com o título Vida do Infante D. Henrique, publicou a respeito das navegações portuguesas, vai mais adiante, e supõe que António de Abreu chegou às costas de Austrália. Há, efectivamente, um mapa de 1530, pouco mais ou menos, que marca um grande território com o nome de Grande Java, que fica fronteiro a Samatra, e em que estão incorporadas muitas das ilhas que nós sabemos que António de Abreu visitou, como é por exemplo Sumbava, e este território prolonga-se até altitudes e longitudes que já são da Austrália. Diz Major que antes de 1530 ninguém podia dar informações a respeito das terras longínquas da Oceania, senão António de Abreu que as visitou, e supõe com bastante verosimilhança, que muitas das ilhas dispersas no mar das Índias e no mar do Sul, e ainda o continente australiano, que parece ter chegado a ver, formassem um território único, sem solução de continuidade.
Assim, pois, não só António de Abreu teria descoberto as Molucas, mas teria sido também o primeiro português que houvesse visitado a Austrália, reconhecida positivamente um século depois por outro navegador português, Heredia.
Voltando das Molucas, ficou António de Abreu como capitão de mar em Malaca, e auxiliou eficazmente a defesa dos portugueses contra tentativas de reivindicação dos antigos possuidores desse território, expulsos por Afonso de Albuquerque.
Regressou pouco depois ao reino, e tornou à Índia em 1526, nomeado capitão-mor de Malaca. Teve de invernar em Moçambique, e chegou no ano seguinte a Goa, onde encontrou as discórdias que se travaram entre Lopo Vaz de Sampaio e Pedro de Mascarenhas. Tomou o partido do primeiro, e até o auxiliou com dinheiro do Estado que trazia na sua nau. Figurou, porém, entre os mais moderados desse partido, e instou muito com Lopo Vaz de Sampaio para que não postergasse no debate com o seu competidor as fórmulas da justiça. Quando se resolveu que doze fidalgos, nomeados seis por cada contendor, decidissem a questão, foi António de Abreu um dos juízes escolhido por Lopo Vaz. Distinguiu-se muito em Malaca, quando governador da Índia D. Estevão da Gama.
Foi António de Abreu o único madeirense que verdadeiramente se tivesse distinguido como navegante e descobridor, deixando nome aureolado na história dos nossos descobrimentos marítimos. E todavia esse nome é quasi desconhecido neste arquipélago, sendo bastante para lamentar que cousa alguma recorde. entre nós a existência deste ilustre filho da Madeira. É de supor que ainda justiça seja feita, reparando se a falta que vem de séculos.
Fica aí a súmula do que se acha exposto em vários escritores acerca do guerreiro e navegador António de Abreu, corroborada pelos dizeres de alguns antigos nobiliários madeirenses, que o consideram como nascido nesta ilha e pertencente às nobres famílias dos “Andrades” e “Abreus”. Nos volumes I e IV da importante publicação Arquivo Histórico da Madeira, contesta se a certeza dessa naturalidade com valiosos argumentos, que fazem suscitar dúvidas no espírito do leitor. Aqui o deixamos consignado, como uma simples indicação para aqueles que pretenderem averiguar melhor a veracidade dessa afirmativa.