Religião

Cerveira e Sousa (D. José Xavier de)

Os acontecimentos políticos que se desenrolaram no país por ocasião da implantação do govêrno constitucional, determinaram a ruptura de relações entre o govêrno português e a curia romana, resultando, entre outros inconvenientes, a demora no preenchimento das vacaturas episcopais.

O prelado D. Francisco José Rodrigues de Andrade saíra da Madeira em Maio de 1834 e, renunciando o bispado, estabeleceu residencia na cidade de Génova, onde faleceu e onde jaz sepultado. Só passados dez anos, depois de reatadas as relações diplomaticas entre Portugal e a Santa Sé, é que foi provida a vaga de prelado existente na diocese funchalense.

O apresentado pelo govêrno português e confirmado pela curia romana foi D. José Xavier Cerveira e Sousa, que nascera na freguesia de Mogofores, concelho de Anadia, a 27 de Novembro de 1797 e era filho do dr. José Xavier Cerveira, antigo magistrado, e de D. Rosa Joaquina Cerveira de Sousa. Cursou a faculdade de teologia da Universidade de Coimbra e nela se doutorou, exercendo ali o magisterio superior, quando foi chamado a dirigir os destinos da igreja funchalense, sendo confirmado bispo a 14 de Junho de 1843 e recebendo a sagração episcopal a 2 de Junho do ano seguinte.

Chegou á Madeira a 8 de Julho de 1844 e governou este bispado até os principios do ano de 1848, sendo então transferido para a diocese de Beja, por decreto de 18 de Abril do mesmo ano. Deixou entre nós as mais honrosas tradições da sua administração diocesana, a pesar das lutas que teve de sustentar e das grandes dificuldades que assoberbaram o seu episcopado. Foi no seu tempo que se levantou mais tenaz e ameaçador o proselitismo protestante, que tinha como caudilho audaz e propagandista de talento e de saber o dr. Roberto Kalley, um medico distintissimo e um orador de raça, que arrastava após si as multidões. Muito se escreveu no jornalismo, em folhetos e em livros acêrca da propaganda calvinista na Madeira, que teve como principal fautor o dr. Kalley, mas ainda está por fazer a historia desse periodo agitado e tumultuario da historia madeirense. O celebre medico escossês, para subtrair-se ás iras populares, teve que embarcar clandestinamente, sendo conduzido á praia numa rêde e em trajos de mulher, e ao ser pressentida a sua fuga, incendiaram-lhe a mobilia e a selecta livraria na casa da sua residencia ao Vale Formoso, pelo que o nosso govêrno teve de pagar a indemnização de alguns contos de réis.

D. José Xavier de Cerveira e Sousa, depois de ser bispo de Beja e de Vizeu, recolheu-se a Mogofores e ali veio a morrer, na propria casa onde nascera, a 15 de Março de 1862, estando sepultado na igreja paroquial daquela freguesia.

Pessoas mencionadas neste artigo

D. Francisco José Rodrigues de Andrade
Prelado que saiu da Madeira em Maio de 1834
D. José Xavier Cerveira e Sousa
Bispo que foi apresentado pelo govêrno português e confirmado pela curia romana

Localizações mencionadas neste artigo

Mogofores
Freguesia de Mogofores, concelho de Anadia