Câmara (Francisco Gonçalves da)
Era filho natural do terceiro capitão-donatario do Funchal, Simão Gonçalves da Câmara. Na ausência de seu sobrinho e quinto donatario desta ilha, Simão Gonçalves da Câmara, que a maior parte do tempo residiu na corte, governou Francisco Gonçalves da Camara a capitania, deixando o seu nome vinculado á fraca defesa e resistência que opôs ao ataque dos franceses a esta ilha no ano de 1566.
O autor das Saudades da Terra refere-se a ele nos seguintes encomiásticos termos:B*he homem mui ardiloso em todos os seus exercícios de guerra, mui temperado, de muita virtude, e pouco mimoso: foi criado em aspereza, fora das delicias de seus irmãos, pela qual rasão he sofredor de trabalhos, e mui esforçado cavalleiro, como mostrou na entrada dos francezes na cidade do Funchal, onde, servindo de Capitam Geral (como servia e agora serve), em ausência, e depois por falecimento de seu sobrinho ferio mui honrosamente o capitam francez Visconde de Pompador, na entrada da Fortaleza, onde mostrou ânimo de valeroso capitam; e por tal lhe deo el-rei o habito com certa tença, e que não pagasse por outo annos quinta e dizima de sua fazenda, que boa parte possuhe no termo do Funchal, de assucares e vinhos. Não compartilha da opinião de Gaspar Frutuoso o erudito anotador das Saudades, afirmando que Francisco Gonçalves da Câmara “a cujo cargo estava o governo da ilha da Madeira, ao revez de aggredir, nem sequer soube defendel-a dos aggressores: apenas houve, á entrada da cidade do Funchal e á porta da fortaleza de São Lourenço, conflito de desesperada defesa e alguns preclaros rasgos de valor individual, que resgataram o bom nome madeirense... “ Acrescenta ainda o mesmo anotador, que houve “prémios para o pusilânime capitão Francisco Gonçalves da Câmara, o qual, no momento do perigo, foi refugiar-se entre as mulheres...” Francisco Gonçalves da Câmara foi proprietário da quinta, hoje chamada das Cruzes, e ali viveu “em huns paços grandes e sumptuosos“, no dizer de Frutuoso.