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Açúcar

A indústria sacarina prosperou bastante entre nós nos séculos XV e XVII não obstante os vexames e pesadíssimos impostos a que estava sujeita. O açúcar madeirense era conhecido então nos principais mercados europeus, e, ao Papa Leão X, enviou uma vez o Capitão Simão Gonçalves da Câmara, bem conhecido pelas suas liberalidades, vários presentes valiosos, entre os quais avultavam o Sacro Colégio, fabricado com aquele produto, e os cardeais em tamanho natural, todos feitos de alfenim.

Nos tempos primitivos, as canas eram espremidas em alçapremas (prensas manuais) ou em engenhos muitos rudimentares, sendo os cilindros destes engenhos construídos algumas vezes de grossos troncos de til, convenientemente preparados.

Em 1496, havia açúcar de uma cozedura e açúcar de duas cozeduras, este do preço de 600 reais e aquele do preço de 350 reais cada arroba. Antes disso, era de 339 reais o preço de cada arroba de açúcar, provavelmente da segunda qualidade.

O proprietário do engenho dava ao Infante, Senhor da Ilha, um terço do açúcar fabricado; o proprietário da alçaprema dava somente arroba e meia daquele produto, mensalmente.

Pouco depois de 1452, havia apenas um engenho movido a água no Funchal, ao passo que o número de alçapremas era considerável, em razão de ser menos pesado o imposto que as onerava.

O primitivo foral, dado talvez por Afonso V, além da exigência do terço para os engenhos, obrigava a dar metade da cana que não fosse reduzida a açúcar.

Como a área destinada à cultura sacarina aumentasse com o andar dos tempos, mercê da construção de levadas para irrigação das terras, e por outro lado descesse a um quarto e depois a um quinto dos açucares a contribuição dos engenhos, resultou daí crescer o número destes estabelecimentos, os quais, conjuntamente com as alçapremas, fabricavam pelos tempos de 1498, mais de 120:000 arrobas, e no meado do século XVI, mais de 300:000 arrobas de açúcar.

Este açúcar era consumido na Madeira, em Portugal e em muitos países estrangeiros, tendo o alvará de 26 de Agosto de 1503 acabado com as restrições a que antes estava sujeita a exportação.

O alvará de 22 de Março de 1498 permitiu aos estrangeiros a residência permanente na ilha, a qual lhes fora negada pelo regimento de 7 de Outubro de 1496, e a carta de 21 de Janeiro de 1511 concedeu aos mesmos estrangeiros o fazerem carregamentos de açúcar destinado à exportação.

Este açúcar pagava despacho nas alfândegas, despacho que, de 1512 em diante, passou a ser feito unicamente na alfândega do Funchal.

O preço do açúcar, em 1507, era de 315 reais por arroba e, em 1511, de 300 reais. A afluência dos açúcares do Brasil e das colónias espanholas da América aos mercados europeus foi a causa principal da decadência da indústria sacarina na Madeira. Em 1612, ainda a Madeira exportava algum açúcar, mas, em 1649, estavam já em ruínas muitos dos seus engenhos, poucos existindo em 1730.

Em 1736, começou a Madeira a importar, este género do estrangeiro, não deixando mais de o fazer, em maior ou menor escala, até o restabelecimento da cultura sacarina, após a destruição dos vinhedos pelo Oidium Tuckery.

A Madeira produzia, entre 1823 e 1826, uma quantidade insignificante de açúcar, mas, em 1861, era a produção de 275:802 quilogramas, passando, entre os anos de 1870 a 1873, a ser de 800:000 a 900:000 quilogramas anualmente.

Em épocas mais recentes, a produção do açúcar deu se nas seguintes quantidades:

AnoProdução, quilogramas
1898648:500
1899442:000
1900442:000
1905800:000
19061:053:000
19081:823:350
19102:973:000
19113:204:000
19124:161:550

Em 1913 | 4:260:928 " Em 1914 | 4:796:725 " Em 1915 | 4:917:113 " Em 1916 | 4:943:675 "

O açúcar colonial que a ilha importou não está compreendido nestes algarismos.

Entraram no consumo local 1.102:545 quilogramas de açúcar em 1908; 837:500 em 1912; 1.656:310 quilogramas em 1916, sendo exportado para Portugal o excesso da produção; e 3.069:143 quilogramas em 1938, sendo exportado para o Continente 399.780 quilogramas.

Segundo o Dr. Azevedo, a exportação do açúcar madeirense nos tempos modernos começou em 1854; cresceu rapidamente desde 1858, até chegar ao maior grau nos anos de 1871 e 1872, no primeiro dos quais chegou a 561:837 quilogramas, e no segundo a 567:526 quilogramas, decaindo logo por metade em 1873, e de mais em mais até 1881.

Diziam os antigos fabricantes que 100 quilogramas de cana Bourbon, que era uma cana riquíssima, produziam cerca de 7 a 9 quilogramas de açúcar, a pesar dos sistemas de fabrico adoptados serem muito rudimentares; hoje, sabe se que a percentagem média da cana Yuba, em rendimento de açúcar, varia entre 9 e 101, devendo atribuir se este facto, principalmente, ao aperfeiçoamento dos sistemas de fabrico empregados.

Na estrutura do regime sacarino da Madeira, o preço do açúcar é estabelecido em função do preço da cana. O açúcar de primeira qualidade que, em 1914, era vendido ao preço de 29 centavos, passou, no ano imediato, para 31 centavos e, depois, sucessivamente, até atingir o preço de 36 centavos por quilograma. Em 1900, vendia se esse açúcar à razão de 26,5 a 27,5 centavos, tendo o seu preço, muitos anos antes, regulado entre 20 e 24 centavos por quilograma. Em 1939, é de 4$20 na Fabrica e 4$40 no comércio retalhista.

O açúcar de segunda qualidade, que era vendido ao preço de 24 e 25 centavos por quilograma em 1910, estava, em 1914, a 28 centavos, passando depois a 30 e finalmente a 33 centavos. Antes da guerra, era esse açúcar vendido às refinarias de Lisboa a 18 e a 19 centavos por quilograma.

O fabrico de açúcar é feito pela Fabrica do Torreão, estabelecendo o decreto n1 23.847, de 14 de Maio de 1934, com referência ao decreto n1 16.003, de 29 de Outubro de 1928, que, até 1953, ou enquanto o aumento de consumo o não justifique, não é permitido construir novas fabricas de açúcar e álcool, nem elevar a capacidade produtora da existente, nem adaptar se ao fabrico de açúcar a que só é destiladora, podendo, porém, todas fazer, nos termos da lei, os melhoramentos necessários de maquinismos.

Desde 1935, que a produção do açúcar ficou restrita, em princípio, ao consumo local, e, estando esta limitação conjugada com o encargo da compra obrigatória de toda a cana de certa graduação, daqui resultou ser garantido a indústria, pelo regime vigente, o mercado da Madeira. Se, em qualquer ano industrial, houver açúcar em excesso, poderá ser introduzido no continente até ao limite máximo de 200 toneladas, sem pagamento de direitos, tendo já sido porém permitidas excepcionalmente maiores exportações, por razões especiais de interesse da agricultura e da indústria.

V. Aguardente, Álcool, Cana Sacarina e Proteccionismo Sacarino.

Pessoas mencionadas neste artigo

Afonso V
Atribuído como o possível doador do primitivo foral que exigia o terço do açúcar dos engenhos e metade da cana não reduzida a açúcar
Dr. Azevedo
Referido como a fonte de informação sobre a exportação do açúcar madeirense nos tempos modernos.
Infante, Senhor da Ilha
Recebia um terço do açúcar fabricado pelos proprietários dos engenhos
Simão Gonçalves da Câmara
Capitão que enviou presentes ao Papa Leão X, incluindo o Sacro Colégio e cardeais em tamanho natural, todos feitos de alfenim

Anos mencionados neste artigo

1452
Havia apenas um engenho movido a água no Funchal e o número de alçapremas era considerável
1496
Existiam açúcar de uma cozedura e açúcar de duas cozeduras com preços distintos por arroba
1498
Alvará permitiu aos estrangeiros a residência permanente na ilha e os engenhos e alçapremas fabricavam mais de 120:000 arrobas de açúcar
1503
Alvará acabou com as restrições à exportação de açúcar
1507
Preço do açúcar era de 315 reais por arroba
1511
Preço do açúcar desceu para 300 reais por arroba e foi concedido aos estrangeiros o direito de fazerem carregamentos de açúcar para exportação
1512
Despacho de açúcar passou a ser feito unicamente na alfândega do Funchal
1612
Madeira ainda exportava algum açúcar
1649
Muitos engenhos estavam em ruínas
1730
Poucos engenhos existiam
1736
Madeira começou a importar açúcar do estrangeiro
1823
Produção de açúcar era insignificante
1854
Começou a exportação do açúcar madeirense nos tempos modernos.
1858
Crescimento rápido da exportação do açúcar madeirense.
1861
Produção de açúcar era de 275:802 quilogramas
1870
Produção de açúcar aumentou para 800:000 a 900:000 quilogramas anualmente
1871
Ano em que a exportação de açúcar madeirense chegou a 561:837 quilogramas.
1872
Ano em que a exportação de açúcar madeirense chegou a 567:526 quilogramas.
1873
Decaimento da exportação de açúcar madeirense por metade.
1881
Continuação do decrescimento da exportação de açúcar madeirense.
1898
Produção de açúcar foi de 648:500 quilogramas
1899
Produção de açúcar foi de 442:000 quilogramas
1900
Produção de açúcar manteve-se em 442:000 quilogramas
O açúcar de primeira qualidade era vendido entre 26,5 a 27,5 centavos por quilograma.
1905
Produção de açúcar aumentou para 800:000 quilogramas
1906
Produção de açúcar foi de 1:053:000 quilogramas
1908
Produção de açúcar subiu para 1:823:350 quilogramas
1910
Produção de açúcar atingiu 2:973:000 quilogramas
O açúcar de segunda qualidade era vendido entre 24 e 25 centavos por quilograma.
1911
Produção de açúcar foi de 3:204:000 quilogramas
1912
Produção de açúcar alcançou 4:161:550 quilogramas
1914
O açúcar de primeira qualidade era vendido a 29 centavos por quilograma e o de segunda qualidade a 28 centavos.
1934
Estabelecimento do decreto n1 23.847, que regulamenta a produção de açúcar e álcool.
1935
Restrição da produção do açúcar ao consumo local.
1939
Preço do açúcar de primeira qualidade é de 4$20 na Fabrica e 4$40 no comércio retalhista.

Localizações mencionadas neste artigo

Funchal
Local onde havia um engenho movido a água e onde a alfândega passou a ser o único local para despacho de açúcar a partir de 1512
Madeira
Conhecida pelos seus açúcares no mercado europeu, com engenhos e alçapremas para a produção sacarina, e onde a exportação de açúcar foi liberalizada por alvarás nos inícios do século XVI