Vimeiro
O vimeiro da Madeira parece ser o produto do cruzamento da salix alba com a S. fragilis. É um arbusto ou pequena árvore com os ramos compridos e flexíveis, e as folhas lanceoladas, as adultas, glabras, as novas, um tanto assetinadas. Só existem na Madeira indivíduos femininos, mas estes são extremamente abundantes e multiplicam-se de estaca com uma facilidade extrema.
Os ramos mais longos do vimeiro utilizam-se para o fabrico de grande numero de moveis e utensílios, tais como canapés, cadeiras, mesas, carros, cestos, etc., os mais curtos para ligamentos e vencelhos, assim como para algumas obras miúdas que se fabricam na ilha.
Em 1912, foram exportados para o estrangeiro e Lisboa 265:919 quilogramas de vimes em obra, e só para o estrangeiro, 255:390 quilogramas de vimes em bruto, tendo sido a Inglaterra, as Canárias e o Cabo da Boa Esperança os principais países importadores dos vimes não manufacturados.
A indústria dos artefactos de verga, que parece ter começado na freguesia da Camacha por 1850, está hoje decadente na Madeira, segundo nos informa o inteligente industrial o Sr. José Maria Teixeira, ao passo que se desenvolve noutros países, e principalmente na África do Sul, para onde a ilha exporta os seus vimes. O encarecimento da matéria prima, que obsta a que alguns industriais que lutam com falta de capitais a adquiram na época própria, a saída para o estrangeiro de muitos operários que se empregavam na referida indústria, enquanto outros se dedicam na ilha a outros serviços mais lucrativos, os fretes mais pesados que oneram os vimes em obra, em razão destes ocuparem maior espaço nos porões dos navios, e os direitos e impostos locais que oneram mais os artefactos de verga do que a matéria prima, são, no entender daquele esclarecido industrial, as principais causas da referida industria ter perdido uma grande parte da sua antiga importância.
A Madeira produz 700 a 800 toneladas de vimes anualmente, saindo talvez metade desta produção para fora da ilha. No Cabo da Boa Esperança, outrora importante mercado consumidor dos artefactos de verga da Madeira, fabricam-se hoje muitos dos mesmos artefactos com vimes importados da nossa ilha, o mesmo acontecendo no Brasil. A Inglaterra é o país que importa actualmente grandes quantidades da obra de verga fabricada na Madeira, recebendo também, segundo nos informam, grandes porções de vimes em bruto (1921).
A poda do vimeiro executa-se desde Janeiro até Março, e os vimes destinados a obras são reunidos em feixes em seguida á colheita, depois do que é uso deixar permanecer a parte inferior dos mesmos feixes mergulhada em água, até que comece a rebentação. Iniciada esta, são os vimes descascados, devendo haver o cuidado de cortar a parte que esteve mergulhada na água.
Uma boa parte da obra de verga produzida na ilha recomenda-se pelo engenho, desvelo e solidez da sua execução, qualidades estas que a tornam bastante apreciada tanto de nacionais como de estrangeiros, denotando ao mesmo tempo muita habilidade e gosto da parte dos artistas madeirenses. A Boaventura e a Camacha são as principais localidades da produção do vime, sendo desta última localidade que sai a maior parte da obra de verga que é exportada ou vendida no Funchal.