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Trigo

O trigo existe em todas as freguesias do arquipélago, mas onde a sua cultura parece ter mais importância é nas freguesias de Santa Cruz, Calheta, Arco da Calheta, Ponta do Pargo, S. Vicente, Porto do Moniz e Porto da Cruz. É quase sempre semeado à mão, e a colheita faz-se arrancando-o ou cortando-o à foice, sendo este processo mais usado do que aquele. A debulha executa-se, quer nas eiras, onde as espigas são calcadas por bois atrelados a uma prancha, na parte inferior da qual se colocam pedras e pedaços de ferro, quer por meio de máquinas movidas a braços, quer finalmente por meio de malhos, sendo este último processo adoptado somente quando são pequenas as porções de trigo colhidas em qualquer terra. A superfície ocupada pela cultura do trigo em todo o arquipélago é de cerca de 2.000 hectares, e a produção eleva-se a uns 25.000 hectolitros anualmente. O rendimento por hectare é bastante variável, havendo terrenos «m que pode atingir 30 hectolitros e outros em que não passa além de 4, nos anos pouco chuvosos. O rendimento médio na ilha da Madeira deve ser de 8 hectolitros por hectare, e, no concelho do Funchal, de uns 12 hectolitros. A Madeira importava anualmente antes da guerra cerca de 7 milhões de quilogramas de trigo e em 1919 importou 4.511 toneladas desse cereal e 690 toneladas de farinha (1921). A riqueza das terras em ácido fosfórico e a conformação do solo da ilha, que dá lugar a que as chuvas transportem todos os anos dos pontos elevados para os que lhes estão inferiores um certo número de elementos necessários à nutrição das plantas, devem ser a causa da permanente produtibilidade dos terrenos destinados pelo agricultor rotineiro e ignorante à cultura ininterrompida do trigo e outros cereais. A fertilização das terras é assunto que preocupa muito pouco a grande maioria dos cultivadores de cereais da Madeira, se bem que alguns haja que adubem com estrumes de curral os terrenos destinados às sementeiras, conseguindo obter assim melhores colheitas do que os que não praticam a adubação. A palha de trigo é utilizada na cobertura de cabanas, na alimentação do gado e também às vezes em camas de animais estabulados. terceiro pela cariopse dura, com quebradura rija No trigo (Triticum aestivum), distinguem-se três tipos ou sub-espécies: o trigo molar, o túrgido e o rijo, sendo o primeiro caracterizado pela cariopse mediana, com quebradura farinosa, e o colmo completamente ôco, o segundo, pela cariopse grande e grossa semi-tenra, e o colmo só parcialmente ôco, e 0 e o colmo completamente meduloso. Na relação seguinte, mencionamos algumas das variedades ou sub-raças cultivadas no arquipélago, as quais costumam ser semeadas desde Dezembro até Março, fazendo-se a colheita nos meses de Junho e Julho: TRIGOS MOLARES Trigo barbela. Espiga estreita, de 6-12 cent., praganosa, branca ou acastanhada tetragonal ou um pouco comprimida na face. Também lhe chamam trigo do mato e trigo da serra. Trigo de Rieti. Semelhante ao precedente, do qual se distingue pelas espigas mais achatadas, quase sempre brancas e pelas praganas mais divergentes. Trigo canoco burbudo. Espigas praganosas, esbranquiçadas de 4-6 cent. de comprido por 1 e meio a 2 de largo, geralmente um tanto comprimidas. Trigo anafil

Apenas se distingue do trigo barbela em ter as espigas às vezes mais es¬curos ou um pouco violáceas. B também chamado trigo português.

Trigo de palha roxa.

Espigas de 9-10 cent. de comprido por 8-15 mil. de largo um pouco violáceas ou avermelhadas, desprovidas de praganas ou com as glumelas superiores providas de praganas curtas. Também lhe chamam trigo mouro.

Trigo mangalhão.

Semelhante ao precedente, mas com as espigas mais longas (12--15 centímetros).

Trigo mocho.

Espiga curta e larga, um tanto comprimida, de 4 e meio a 5 cent. de comprido por 15-20 mil. de largo, desprovida de praganas. íi conhecido também pelos nomes de trigo rapadmho, pelado, rapado e sem vergonha.

Trigo canoco.

Muito semelhante ao precedente, mas com as espigas mais longas (5-6 e meio centímetro). Recebe também a denominação de trigo pelado, rapado, anafil e canoquinho.

Trigo canhoto

. Semelhante ao trigo barbela e ao trigo de palha roxa, diferindo deste na cor amarelada, e daquele em ser desprovido de praganas, excepto às vezes no alto. Cha-mam-lhe também trigo canoco pelado.

Trigo americano.

Espiga longa, branca, de 10-15 cent. de comprido por 12-15 mil. de largo; glumelas providas às vezes de pragana curta, as do alto longamente praganosas nalguns casos. Semelhante ao precedente e talvez um simples forma dele.

TRIGOS TÚRGIDOS

Trigo Alexandre.

Espiga tetragonal ou quase, branca, compacta, com aristas longas, mais ou menos escuras na parte média inferior.

Trigo branco n.° 1.

Espiga branca ou com manchas negras quase tetragonal ou um pouco achatada no perfil, com o eixo quebradiço; praganas brancas ou negras raras vezes nulas. Também lhe chamam trigo ganil.

Trigo branco n.° 2.

Difere do precedente em ter as espigas mais largas e mais comprimidas.

TRIGOS RIJOS

Trigo vermelho.

Espiga de 4 e meio a 7 cent. de comprido ele meio a 2 cent. de largo, densa, de ordinário um tanto achatada no perfil; glumas pubescentes; praganas mais escuras na base. Chamam-lhe também trigo russo.

Trigo amarelo.

Como o precedente, mas com glumas amareladas e glabras. E conhecido também pelas denominações de trigo russo, do Campanário, anafil e tangarola.

Trigo de cabeça preta

. Espigas de 6 e meio cent. de comprido por 2 de largo quase desprovido de praganas e com manchas escuras.

Trigo branco.

Espiga densa, branca, glabra, semelhante à do trigo vermelho; praganas negras na base, divergentes.

Os trigos rijos degeneram na Madeira, tomando facilmente, quando não haja a cautela de renovar as suas sementes, os caracteres dos trigos túrgidos. Temos visto exemplares de trigo vermelho e amarelo com as praganas um tanto divergentes, as cariopses mais ou menos farinhosas e a palha ôca, excepto no alto, ao passo que nenhum dos trigos túrgidos e molares que existem na ilha perdem as características das sub-espécies ou tipos culturais a que pertencem. (1921).

Além do Triticum aestwum, existe ainda na Madeira o T. polonicum, caracterizado pelas cariopses muito compridas e estreitas, com quebradura rija, e pelas glumas alongadas, mas esta espécie é, por enquanto, pouco cultivada, só existindo na freguesia do Caniço.

Além do que fica textualmente transcrito da primeira edição, publicou ainda o co-autor desta obra, Carlos Azevedo de Menezes, as seguintes interessantes informações, que convém deixar aqui arquivadas.

«N'um valioso estudo sobre as variedades portuguezas publicado ha 40 annos pelos fallecidos professores Ferreira Lapa e Andrade Corvo no tomo IIIt parte II, das Memorias da Academia Real das Sciencies de Lisboa, encontramos indicados e descriptos 29 typos differentes d'esse cerealt sendo 26 provenientes do continente do reino e Açores, e 3 do archipelago da Madeira. Os typos madeirenses são os que ainda hoje são conhecidos no archipelago pelas designações de trigo mocho, trigo português e trigo Alexandre com que foram indicados no referido estudo, fazendo parte o primeiro e o segundo do Triticum vulgare e o ultimo»

Triticum turgidum, duas raças consideradas oufrora como espécies distinctas, mas que muitos botânicos incluem agora na subespecie tenax do Triticum satwum, Lam..

Tendo-se-nos oferecido ensejo de examinar várias amostras de trigo colhidas em diferentes pontos da Madeira em 1904 e 1905, não nos foi difícil reconhecer que o numero das variedades existentes nesta ilha é superior ao das que foram estudadas pelos referidos professores verificando mais que alguns dos antigos tipos, embora semelhantes a certos tipos portugueses, dos quais talvez, provenham, se afastam deles, todavia, por caracteres dignos de nota.

As variedades madeirenses que tivemos ocasião de estudar, pertencem todas às raças T. vulgare e T. twgidum, conhecidas no comercio pelo nome de trigos molares. O T. durum outra raça do T. sativum, nunca foi achado por nós na Madeira ou no Porto Santo, sendo possível que não existam nestas ilhas. Os trigos a que na Madeira chamam rijos, são, no nosso entender, simples sub raças do T. turgidum, como facilmente se reconhece pela forma das suas espigas e glumas e pela consistência e forma arqueada dos seus grãos. Nos seus trigos rijos ou durasios, os grãos são alongados, aguçados e quasi sempre vitreos, caracteres estes que não observamos em nenhuma das variedades madeirenses.

A superfície ocupada pela cultura do trigo em todo o arquipélago, como acima se diz, é de cerca de 2.000 hectares e a produção eleva-se a uns 25.000 hectolitros anualmente. O rendimento por hectare é bastante variável, havendo terrenos em que ele pode atingir 30 hectolitros, e outros que não passa alem de 4 nos anos pouco chuvosos. O rendimento médio na ilha da Madeira deve ser de 8 hectolitros por hectare, e no concelho do Funchal de 12 hectolitros.

A utilidade dos afolhamentos é quase desconhecida dos povos da Madeira, havendo terrenos em que o trigo costuma ser cultivado durante 15 e 20 anos suoessivos. Estes terrenos nem adubados são muitas vezes, e no entanto produzem todos oe anos um rendimento que o cultivador ignorante e talvez pouco ambicioso, considera suficientemente remunerador do seu trabalho! Sendo tão fértil o solo da ilha, não seria para admirar que a sua produção triplicasse ou quadruplicasse em pouco tempo, quando submetido a processos mais racionais da cultura.

Todas as variedades de trigos existentes na Madeira, costumam ser semeadas desde Dezembro até Março, efectuando-se a colheita nos meses de Junho e Julho. O T. turgidum, é mais cultivado na zona baixa da ilha do que nos pontos elevados, ao contrario do que sccede com o T. vulgare. Este, que parece ser o mais antigo da terra encontra-se até uma altitude de 700 metros (1900).

A Madeira importa annualmente cerca de 7 milhões de kilogramm&s de trigo exótico, visto o de produção local mal chegar para satisfazer ás exigências do consumo durante 3 mezes.

Os trigos madeirenses são quasi sempre semeados á mão e a colheita faz-se arrancando-os ou cortando-os & foice. Este ultimo processo é muito menos usado do que o primeiro. A debulha executa-se quer nas eiras, onde as espigas são calcadas por bois atrelados a uma prancha, na parte inferior da qual se collocam pedras e pedaços de ferro, quer por meio de machinas movidas a braço. Como as debulhadoras são agora frequentes em quasi toda a ilha; vae o primitivo processo de bater as espigas por animaes cahindo a pouco e pouco em desuso. Os indivíduos que só possuem pequenas porções de trigo, costumam servir-se do malho para o debulhar.

A palha de trigo é utilizada na cobertura de cabanas na alimentação do gado e também ás vezes em camas de animaes entabulados.

A fertilização das terras é assumpto que preocupa muito pouco a grande maioria dos cultivadores madeirenses; no entanto, alguns ha que adubam com estrumes de curral os terrenos destinados ás sementeiras, obtendo assim melhores colheitas do que os que não praticam a adubação. A riqueza das terras em acido phosphorico e a conformação do solo da ilha, que dá logar a que as chuvas transportem todos os annos, dos pontos elevados para os que estão inferioresi um certo número de elementos necessários á nutricção das plantas devem ser os motivos da permanente productibilidade dos terrenos destinados pelo agricultor ignorante e rotineiro à cultura ininterrompida do trigo e outros cereaes. Para obstar a que as variedades cultivadas degenerem, costumam os agricultores dos differentes pontos da ilha trocar periodicamente entre si os trigos destinados ás sementeiras.

Os madeirenses atribuem aos trigos da ter¬ra um valor nutritivo superior ao dos trigos importados. As analyses a que procedeu o fallecido professor Ferreira Lapa nos três ty-pos a que atraz nos referimos, confirmam até certo ponto esta opinião, visto ellas terem accusado, para os mesmos typos, uma dose de materiais proteicas egual ou mesmo superior à encontrada nas melhores variedades portuguezas de trigos mollares. O pão fabricado com farinhas da Madeira, é geralmente fofo, atrigueirado, leve e saboroso.

Pessoas mencionadas neste artigo

Andrade Corvo
Professor
Carlos Azevedo de Menezes
Co-autor
Ferreira Lapa
Professor fallecido professor

Anos mencionados neste artigo

1921
Publicação de informações sobre trigos na Madeira