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Tomás (Manuel)

Segundo se vê na Nobiliarchia Portuguesa, volume 2.°, página 212 nasceu Manuel Tomás em Guimarães no ano de 1585, sendo filho do médico Luís Gomes de Medeiros e de D. Gracia Vaz Barbosa. São-nos inteiramente desconhecidas as circunstâncias particulares da sua vida até que se estabeleceu na Madeira e os motivos que o levaram a deixar o Continente do Reino para fixar residência definitiva nesta cidade, onde permaneceu até à morte.

O ilustre anotador das Saudades da Terra inclina-se a supor com bons fundamentos que Manuel Tomás fosse capitular ou mesmo dignatário da Sé do Funchal, pela referência que o licenciado Bartolomeu do Vale Cabreira lhe fez na censura do poema A Insulana, dizendo que «pelo decurso de muitos annos acquiriu o beneesse de que tambem cotado estaa». Também temos razões para acreditar na opinião do dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo, julgando que o autor da Insulana e do Phenix da Lusitânia era cónego da catedral do Funchal. Pouco sabemos da vida deste apreciado poeta e considerado escritor, dizendo Inocêncio Francisco da Silva, seguindo a Bibliotheca Lusitana, «que morreu assasinado por um filho dum ferrador aos 10 de Abril de 1665, quando contava 80 annos de edade, sem que todavia se nos patenteie o motivo que houve da parte do assassino para praticar tal atrocidade». Diz o dr. Azevedo que Manuel Tomás «tendo-se envolvido nas dissenções de que ao diante proveiu a sedição ecclesiastica de 18 de setembro de 1668, foi por isso assassinado em 10 de Abril de 1665 por um filho d'um ferrador». Não sabemos em que razões se fundou o ilustre professor para fazer tal afirmativa, nem como se matou um homem, e de mais octogenário, por causa de acontecimentos que se deram três anos e meio depois do seu assassinato, pois Manuel Tomás sucumbiu a 10 de Abril de 1665 e a sedição rebentou a 18 de Setembro de 1668, segundo afirma o mesmo dr. Álvaro de Azevedo, e como pode também ver-se no artigo «A deposição d'um governador», publicado há anos no Diário do Commercio. Bom é notar, o que para o caso presente tem a maior importância, que a sedição foi movida contra o governador D. Francisco de Mascarenhas, por supostos ou verdadeiros agravos dele recebidos, e que este governador e capitão-general da Madeira tomou posse do seu governo em 28 de Novembro de 1665, isto é, sete meses depois do assassinato de Manuel Tomás. Parece-nos, pois, muito difícil filiar na sedição de 1668 a morte do ilustre poeta, a não ser que subsídios históricos ainda não conhecidos venham modificar esta nossa opinião. E bem conhecido, ao menos de nome, o poema épico que ligou Manuel Tomás à história madeirense e o tornou extremamente simpático aos filhos deste arquipélago, narrando, embora com as ficções e hipérboles da poesia e ainda mais da poesia do tempo, o descobrimento da Madeira, que atribui primitivamente a Machim, o seu progressivo desenvolvimento, as diversas fases da sua história e muito particularmente os feitos e acções que ilustraram muitos madeirenses. Sendo um poema, em que o autor deu largas à fantasia, não deixa ainda assim de encerrar algumas indicações apreciáveis e não despiciendas para a história da Madeira. A obra, que foi publicada em Flandres em 1635, teve grande voga e durante um longo período de tempo constituiu leitura predilecta de todos os madeirenses ilustrados, sendo muito frequentes as citações e referências que a ela se fazem em diversos manuscritos, memórias, nobiliários e vários outros escritos que tratam de coisas madeirenses. Quanto aos méritos literários de Manuel Tomás e ao valor do seu poema Insulana, ouçamos a opinião autorizada de Inocêncio Francisco da Silva, que não costuma ser pródigo em elogios: «Foi Manuel Thomaz um poeta da escola gongorista, de cujos preceitos se mostrou sempre afervorado discípulo. Posto que o seu estylo seja, como convinha a essa escola, túrgido e emphatico, e que abunde em ideias hyperbolicas, em ampliações e conceitos, etc, nem por isso deixa elle de posuir seu mérito real, como homem dotado de engenho fecundo e de viva imaginação. A maior parte dos defeitos que se lhe notam, não são seus, mas do século em que viveu, e das ruins doutrinas em que foi educado. O erudito Francisco José Freire na sua Arte Poética, cita com louvor e por mais de uma vez, a Insulana como uma das nossas epopeias mais notáveis; e, em verdade, parece ser esta a mais valiosa composição de Manuel Thomaz; o seu maior peccado é talvez a sua nimia extensão.

porque bem poderia reduzir-se a cinco ou seis cantos, com o que ficaria de certo mais regular».

Manuel Tomás também escreveu o poema o Phenix da Lusitânia, que trata da libertação de Portugal do jugo castelhano, além doutros escritos que vêm enumerados no Diocionario Bibliographioo Portugwez.

De assunto semelhante à Insulana, é o poema Zargueida, publicado em 1806 e escrito pelo poeta madeirense Francisco de Paula Medina, de quem já nos ocupámos.

Pessoas mencionadas neste artigo

Bartolomeu do Vale Cabreira
Licenciado
D. Gracia Vaz Barbosa
Desconhecido
Francisco José Freire
Erudito
Inocêncio Francisco da Silva
Erudito
Luís Gomes de Medeiros
Médico
Manuel Tomás
Escritor e poeta
Álvaro Rodrigues de Azevedo
Dr.

Anos mencionados neste artigo

1585
Manuel Tomás nasceu em Guimarães
1635
Publicação do poema épico em Flandres
1665
Assassinato de Manuel Tomás
1668
Sedição ecclesiastica de 18 de setembro
1806
Publicação do poema Zargueida