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Tábua (Freguesia da)

Parece que a origem do nome desta paróquia, se deve filiar na existência dum vegetal que se chama tábua. Os nomes de Tabua e Tabuaço foram dados a lugares onde abundava aquela planta, e talvez pelo mesmo motivo a palavra Tábua figura várias vezes na corografia brasileira. Em botânica existem a Typha angustifolia e a Typha latifolia, e embora estas plantas não se encontrem presentemente nesta ilha, como a flora madeirense sofreu modificações sensíveis, em parte provocadas pelo homem é lícito supor que em antigos tempos tais plantas ou alguma delas existisse dentro da área desta freguesia. Nas Canárias encontra-se uma espécie de Typha, não sendo portanto para estranhar que este género tivesse representante na Madeira. No sítio de Lugar de Baixo e na Tábua, existe uma planta — o Cyperus laewhgatus — que não se encontra no resto da Madeira. Confundiriam os primeiros povoadores tal planta com a tábua, apesar de se tratar de espécies de famílias diferentes? E também possível, pois que é lícito admitir que Zargo e seus companheiros se não recomendassem pela sua erudição em assuntos botânicos. Em época mais afastada a grafia desta palavra era Atabua, como se vê em muitos documentos antigos e no respectivo arquivo paroquial. Foi a partir de 1838 que o padre António Francisco Drumond e Vasconcelos alterou a forma primitiva do vocábulo, começando a escrever Tábua e tendo os seus sucessores até o presente adoptado a nova ortografia, que é hoje geralmente seguida por todos. O anotador das Saudades dá o ano de 1586 como o da criação desta freguesia. O diploma mais antigo citado no índice Geral da Provedoria... e nas Memorias do Estado Eclesiástico... é o do. 1 de Março de 1577, que, à primitiva côngrua paroquial de 11$300 réis anuais acrescentou 8$700 réis. Faz-se aí menção dos alvarás régios de 15 de Dezembro de 1588, 15 de Novembro de 1591 e 18 de Janeiro de 1654, que elevaram respectivamente o vencimento anual do pároco a 20$000 réis, meio moio de trigo e um quarto de vinho, 16$000 réis, um moio de trigo e uma pipa de vinho e 19$000 réis, meio moio de trigo e um quarto de vinho. João Medeiros de Miranda, Manuel de Espínola, António Velho de Amil Luciano Espínola e Rui Gomes foram os primeiros sa¬cerdotes que exerceram funções paroquiais nesta freguesia. O alvará régio de 2 de Julho de 1743 estabeleceu um curato nesta paróquia, dizendo-se no respectivo diploma que «fora criado a rogo do vigário António Miguel de Faria, por se achar a dita freguesia entre duas caudalosas ribeiras e ter mais de mil fregueses». Ao cura, pelo mesmo alvará, foi fixada a côngrua anual de um moio e meio de trigo e uma pipa e meia de vinho. Não sabemos onde foi estabelecida a sede da paróquia por ocasião da sua criação. Conjecturamos que já ali existisse uma capela da Santíssima Trindade e que nela se instalasse a sede de nova freguesia, como geralmente sucedeu em toda a diocese nos tempos primitivos da colonização. Seria, por certo, uma capela de acanhadas proporções que deveria ter sofrido vários repairos e talvez acrescentamentos até se edificar um templo de mais amplas dimensões. O templo que servia de igreja paroquial anteriormente ao actual, foi destruído por uma aluvião e ficava em frente da capela da Conceição encontrando-se ainda no local vestígios da construção primitiva. O mandado do Conselho da Fazenda, de 22 de Outubro de 1675, determinou que se procedesse à edificação dum novo templo, mas parece que as respectivas obras não começaram desde logo ou foram executadas com grande morosidade, pois que na frontaria da igreja se lê a inscrição — Rei Dom Pedro — 1696 — que é certamente a data da conclusão do edifício.

Num antigo documento, lemos que em 1747 foi pedido para haver sacrário com o Santíssimo Sacramento na igreja da paróquia da Tábua, o que antes não havia morrendo alguns fiéis sem terem recebido o Sagrado Viático.

Tem esta freguesia as capelas da Madre de Deus e de Nossa Senhora da Conceição, das quais já demos rápida notícia a páginas 312 e 432 do II volume, e a de Nossa Senhora da Candelária, de que ignoramos quaisquer particularidades que lhe digam respeito.

Desta freguesia, disse em 1590 o dr. Gaspar Frutuoso: «Da Ribeira Brava meya legoa, está a Ribeira da Tábua com huma freguesia de quasi trinta fogos. Teve já dous engenhos e tem muitas vinhas, cannas e fructas, mas o vinho he semelhante ao da Ribeira Bravax sua visinha. Desta Ribeira da Tábua são os Medeiros, gente nobre e honrada». Observa com razão o anotador das Saudades que naquela época tinha esta paróquia mais de 100 fogos e não apenas 30, como claramente se deduz dos alvarás régios respeitantes às côngruas paroquiais, que vêm ali citados.

Com respeito à família Medeiros, diz o dr. Rodrigues de Azevedo que «Ruy Vaz de Medeiros foi um dos primeiros povoadores que vieram para a Madeira: teve de sesmaria muitas terras na Atabua, da ribeira para o sitio do Zimbreiro» Outro antigo povoador da Tábua, diz ainda o dr. Azevedo, foi o francês Ruy Vaz Urzel, que veio para esta ilha por 1480. Foram também ali antigos colonizadores e povoadores Álvaro Martins, Jorge Lourenço, António Rodrigues, Manuel Rodrigues, António Luís, Diogo Fernandes, etc.

Nos motins populares ocorridos na freguesia da Ribeira Brava e nos processos judiciais que se lhes seguiram acharam-se envolvidas várias pessoas da freguesia da Tábua (V. página 385 do volume II).

Os principais sítios são: Praia, Lugares, Terça, Fajã, Ribeira, Boqueirão Pico do Ferreiro Bica de Pau, Corujeira, Zimbreiro, Massapés, Candelária, Ribeira da Caixa, Lugar da Serra e Barbuzano. Quando em 1914 se criou o concelho da Ribeira Brava ficou a freguesia da Tábua fazendo parte dele, tendo então sido desmembrada do concelho da Ponta do Sol. Tem esta freguesia 2235 habitantes (1921).

Pessoas mencionadas neste artigo

António Luís
Antigo colonizador e povoador da Tábua
António Miguel de Faria
Vigário
António Rodrigues
Antigo colonizador e povoador da Tábua
António Velho de Amil Luciano Espínola
Primeiro sacerdote
Diogo Fernandes
Antigo colonizador e povoador da Tábua
Jorge Lourenço
Antigo colonizador e povoador da Tábua
João Medeiros de Miranda
Primeiro sacerdote
Manuel Rodrigues
Antigo colonizador e povoador da Tábua
Manuel de Espínola
Primeiro sacerdote
Rui Gomes
Primeiro sacerdote
Ruy Vaz Urzel
Antigo povoador da Tábua, veio para esta ilha por 1480
Ruy Vaz de Medeiros
Um dos primeiros povoadores que vieram para a Madeira
Álvaro Martins
Antigo colonizador e povoador da Tábua

Anos mencionados neste artigo

1577
Aumento da côngrua paroquial
1586
Criação da freguesia
1588
Elevação do vencimento anual do pároco
1591
Elevação do vencimento anual do pároco
1654
Elevação do vencimento anual do pároco
1743
Estabelecimento de um curato