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Sé (Freguesia da)

Como já em outro lugar dissemos, a primeira paróquia criada no Funchal foi a de Santa Maria Maior, embora logo nos primeiros tempos da colonização se exercessem funções paroquiais simultaneamente em diversas capelas e ermidas (volume II, página 52). Esta freguesia, criada por 1438 e estabelecida na igreja de Nossa Senhora do Calhau, transferiu a sua sede para o novo templo, que depois foi Sé Catedral, alguns anos antes da instituição da Diocese. 0 alvará régio de 18 de Novembro de 1557 dividiu-a em duas paróquias distintas, com as suas sedes na Sé Catedral e na igreja de Nossa Senhora do Calhau. Foi da freguesia da Sé que se desmembraram as paróquias de São Pedro, Santo Antonio, São Martinho, São Roque, Monte e mais tarde Santa Luzia.

Até 1562, era o serviço paroquial desempenhado pelo deão da Sé, tendo o alvará régio de 20 de Julho daquele ano criado dois curatos, e exonerando o membro mais graduado do cabido do exercício daquelas funções. Foi de 8.400 réis anuais a primitiva côngrua de cada cura, que o alvará de 30 de Novembro de 1563 elevou a 17.450 réis e o de 21 de Fevereiro de 1600 a 20.000 réis, também anuais. Os primeiros curas, como no mencionado alvará de criação se declara, eram amovíveis, passando mais tarde a constituir um benefício colado como os outros congéneres desta diocese. Haverá aproximadamente cinquenta anos que o prelado D. Manuel Agostinho Barreto suprimiu provisoriamente um destes curatos, criando então um coadjutor na Sé e outro em cada uma das freguesias de São Gonçalo e São Martinho.

Não nos referiremos aqui ao templo em que foi e se acha instalada a sede desta freguesia, porque noutro lugar nos ocupamos dele com alguma largueza (V. Sé Catedral).

Na área desta paróquia ficam as igrejas do Colégio, Carmo, Bom Jesus e Misericórdia. Já não existem as capelas de São Sebastião, São Bartolomeu, São Lourenço, Nossa Senhora da Piedade, Jesus Maria José, Nossa Senhora da Graça, Nossa Senhora do Livramento e Nossa Senhora dos Varadouros, às quais tôdas já nos referimos em outros lugares desta obra. Dentro do pátio da Alfândega existe ainda, mas já profanada, uma capela que tinha a invocação de Santo Antonio.

Foi também dentro da área desta paróquia que, durante alguns séculos, existiu a casa de João Esmeraldo, em que se afirma ter residido Cristovão Colombo e que ficava na rua que tem hoje o nome do grande navegador, como mais largamente se pode ver no artigo que a ele consagramos a páginas 286 do volume I deste Elucidário. Entre as ruas da Alfandega e dos Murças, no prolongamento do largo da Sé, se levantava um antigo edifício, que durante muitos anos serviu de cadeia e também de paços do concelho, e do qual já demos noticia em outro lugar (volume I, página 183). Ao portão dos Varadouros, que era a antiga entrada da cidade, fizemos a indispensável referência no artigo Nossa Senhora dos Varadouros, a página 467 do volume II.

O principal edifício que se encontra nesta paróquia é a Sé Catedral, que está classificada como monumento nacional e que na verdade é um magnífico templo, digno do maior apreço pelo seu belo aspecto e majestade.

A freguesia da Sé ocupa a parte mais central da cidade e nela se desenvolve a sua maior actividade comercial, burocrática e oficial. Ali se encontram os mais importantes estabelecimentos comerciais, incluindo todas as casas bancárias, e a maior parte das repartições públicas, e ali se exerce o tráfego comercial do porto e da alfândega da cidade. O número dos seus moradores vai diminuindo consideravelmente, porque o movimento comercial tende sempre a desenvolver-se e as casas de habitação vão-se transformando em estabelecimentos de comercio.

Segundo o Mappa Alphabetico das ruas da cidade, aprovado pelo Governador Civil em 15 de Dezembro de 1863, fazem parte da freguesia, sendo quasi sempre limites dela, a parte sul da rua do Carmo (Costa Ferreira), desde a ponte até o ribeirinho do Vale, a parte norte da mesma rua, compreendida entre o dito ribeirinho e a rua das Hortas (Alferes Veiga Pestana), a parte ocidental desta rua, situada abaixo da rua do Bom Jesus, a rua da Conceição (Correia Heredia), a rua da Ponte Nova, a parte da rua do Bom Jesus entre a rua da Conceição e a da Princesa (31 de Janeiro), a parte oriental da rua dos Ferreiros, situada acima da rua dos Netos, a parte sul desta ultima rua, até a rua do Castanheiro, e a parte norte desde a ponte até a rua dos Ferreiros, a rua das Pretas (Câmara Pestana nos pontos em que estão as casas com os números

64 e 43, pertencentes respectivamente a D. Maria Camacho Teixeira de Sousa e José Teedoro Clerouin (1921), a parte da rua da Carreira (Dr. Vieira) limitada a oeste pela rua de São Francisco, a parte oriental desta rua, a fortaleza de São Lourenço, e finalmente a rua do Anadia, desde o Pelourinho até a ponte em frente da rua do Carmo. Alguns consideram toda a rua das Hortas como pertencente a Santa Luzia, e o lado sul da rua do Bom Jesus, para oeste da mesma rua das Hortas, como pertencente á freguesia da Sé. A freguesia da Sé tem 4083 habitantes (1921).

Pessoas mencionadas neste artigo

D. Manuel Agostinho Barreto
Prelado
D. Maria Camacho Teixeira de Sousa
Proprietária de 64
José Teedoro Clerouin
Proprietário de 43
João Esmeraldo
Proprietário da casa onde se afirma ter residido Cristovão Colombo

Anos mencionados neste artigo

1438
Criação da freguesia
1557
Divisão em duas paróquias distintas
1562
Criação de dois curatos
1863
Aprovação do Mappa Alphabetico das ruas da cidade
1921
Número de habitantes: 4083