Geografia

Ruivo (Pico)

É muito conhecido este pico e vem citado em inúmeras obras nacionais e estrangeiras, por ser o de maior elevação na Madeira e descortinar-se dali o mais vasto panorama de toda a ilha. O seu cume ou ponto mais alto fica no extremo-sul da freguesia de Santana, abrangendo algumas das suas ramificações tractos de terreno dentro dos limites das freguesias do Faial e de São Jorge.

Para atingir-se esta eminência, é preciso tomar as estradas que, das freguesias de Santana ou do Curral das Freiras, conduzem àquele lugar, sendo preferível o caminho da última destas duas freguesias. Pela primeira, alcança-se o cume do pico, tomando a Cumeada Alta, oferecendo todo o percurso os mais belos pontos de vista e passa-se próximo da curiosa coluna de lava conhecida pelo nome de Homem em Pé (Vid. este nome). Pela segunda, sobe-se a estrada do Lombo Grande, encontrando-se a certa altura uma vereda, que conduz ao cimo do elevado monte. Também ali se chega, partindo do Curral das Freiras e galgando o atalho chamado Lombo do Furão, mas, além de tornar-se uma ascensão extremamente penosa, é também cheia de perigos pelos barrancos e precipícios que ladeiam o mesmo atalho.

Do alto desta eminência, pode-se apreciar com relativa precisão o sistema ortográfico da Madeira, distinguindo-se nitidamente uma parte considerável dos montes mais elevados e os grandes desfiladeiros que os cercam, quase sempre ladeados por escarpadas ravinas e pelas mais altas e abruptas vertentes. Daquela altura se destaca a cordilheira de intermináveis montes, que corta longitudinalmente a Madeira do extremo oeste ao extremo leste, formando as duas bem definidas vertentes, que constituem a costa-norte e a costa-sul da ilha.

Apesar da dificuldade da ascensão, muitas personagens ilustres têm visitado esta encantadora estancia, levadas umas pelo deslumbramento dos inenarraveis horizontes que dela se descobrem e atraídas outras pelo particular interesse que oferece aos cultores das ciências fisico-naturais.

Na seguinte relação vão indicados os resultados obtidos pelos diferentes observadores que têm procurado medir a altura do Pico Ruivo.

AnoObservadorAltura (metros)
1811Gourlay2 515
-Smith, Irish Trans, 8.°1 573
1821Clavering e Sabine, Journ. of Science, n.° 291 657
1823Bowdich (barometro)1 855
-Bowdich (trigonometria)1 921
-Amigos de Bowdich1 864
1826Dr. Heineken, Phil. Mag., 18371 850
1838Oficiais da Expedição Exploradora Americana, dirigida pelo capitão Wilkes1.901
1839Oficiais dos navios britanicos Erebus e Terror1 858
--1 860
1844Capitão Vidal1 845
-Engenheiro Antonio P. de Azevedo1 843
1859Dr. Hochtetter1 876
1861J. Gray Smith1 849
1903Coronel Eduardo Agostinho Pereira1 950
1914Comissão Geodesica presidida pelo coronel Alfredo Durão1 861

Os oficiais dos Navios Erebus e Terror serviram-se das formulas de Gay Lussac e de Rudberg para a medição do pico, tendo obtido pelo primeiro processo a altura de 1858 metros, e pelo segundo a de 1.860 metros. Um dos cálculos de Bowdich baseia-se numa operação trigonométrica; quanto aos demais resultados, foram obtidos todos por meio do barómetro, tendo-se servido o falecido coronel Eduardo Agostinho Pereira de um barometro-altimetro para a medição que fez do pico.

É considerado como um dos mais exactos o cálculo do coronel Alfredo Durão, por se haver realizado em condições especiais de alcançar-se um resultado satisfatório, o qual atribui a essa elevação montanhosa a altitude de 1861 metros. Verificou-se este cálculo no ano de 1914.

São grandiosos os panoramas que se desfrutam do alto do pico, qualquer que seja o lado para que dirijamos a vista. O pico do Areeiro com as suas escarpas avermelhadas, o largo pico das Torres, rodeado de vários cumes secundários, o mais alto dos quais é o pico do Gato e os picos do Canário, do Cidrão, Grande e de Santo Antonio, erguem-se a curta distancia, mas separados de nós por barrancos mais ou menos profundos, enquanto mais ao longe se descortinam para o lado de oeste o planalto do Paul da Serra, inteiramente despido de vegetação, e para o de leste a longa e sinuosa ponta de S. Lourenço. A freguesia de Santana, as verdejantes serras de S. Jorge e da Boaventura, uma parte do caminho do Poiso, o Porto Santo e as três Desertas, avistam-se do alto do pico, sendo também visível daí o mar em torno da ilha, excepto na direcção do pico das Torres, que pouco menos elevado é que o Ruivo. O espectáculo que ao nascer do sol se contempla do alto do pico é digno de ser admirado pelo que apresenta de fantástico e imensamente formoso. Olhado desse cume, o astro do dia ao assomar no horizonte parece sofrer uma trepidação no seu disco engrandecido e de uma linda cor de oiro, mas este espectáculo embora curioso e digno de atenção, é imensamente excedido em beleza pelos magníficos efeitos de luz que o mesmo astro vai produzindo sobre as brumas matutinas e os cumes escalvados das montanhas, á medida que se eleva. No alto do pico têm sido achadas sete espécies vegetais, figurando entre elas uma pequena urze de flores rosadas ou violaceas (Erica cinerea). A urze molar vai quase até o cume do pico, ao passo que a urze durasia não passa além de meia encosta. Encontram-se restos de uma coluna de lava revestidos de muitos cristais de olivina na parte superior do pico, e os terrenos adjacentes são constituídos por escórias vermelhas, lápili e bombas vulcanicas. Segundo lemos numa correspondência publicada no n.° 355 do Correio de Madeira, de 21 de Junho de 1923, quando se procedeu á divisão dos montados, ficou uma parte do pico Ruivo, a do oriente, pertencente ao Faial, a parte do norte a Santana e a parte de oeste a S. Jorge. O ponto mais alto do monte, lê-se na mesma correspondência, pertence a Santana. Numa das vertentes do Pico Ruivo e não muito distanciado do seu cume, encontra-se uma furna ou lapa conhecida pelo nome de Lapa da Cadela, que serve de abrigo aos visitantes, que ascendem a essa eminência quando o mau tempo os surpreende naquelas, por vezes inóspitas, paragens. Impunha-se a necessidade da construção de uma pequena casa de abrigo nessas imediações, o que somente veio a realizar-se no ano de 1939, com o maior aprazimento dos que visitam essa pitoresca estancia e com o merecido louvor para os que empreenderam esse apreciável melhoramento. São inumeras as composições em prosa e verso, que enaltecem as maravilhosas belezas daquelas eminentes paragens e inumeras também as narrativas, em vernáculo e em línguas estrangeiras, de varias excursões que ali se têm realizado, merecendo muitas delas ser lidas e devidamente apreciadas. Entre estas, podemos mencionar a do ilustre naturalista e viajante inglês T. E. Bowdich, no seu interessante livro Excursions in Madeira and Porto Santo, de que há uma tradução francesa, e a que foi publicada nos números do antigo Heraldo da Madeira de 2, 6 e 7 de Fevereiro de 1912.

Pessoas mencionadas neste artigo

Bowdich
Observador que mediu a altura do Pico Ruivo tanto por barometro quanto por trigonometria
Capitão Vidal
Observador que mediu a altura do Pico Ruivo
Capitão Wilkes
Dirigiu a Expedição Exploradora Americana que mediu a altura do Pico Ruivo
Clavering e Sabine
Observadores que mediram a altura do Pico Ruivo, publicado em Journ. of Science
Coronel Alfredo Durão
Presidiu a Comissão Geodesica que mediu a altura do Pico Ruivo em 1914
Coronel Eduardo Agostinho Pereira
Observador que mediu a altura do Pico Ruivo usando um barometro-altimetro
Dr. Heineken
Observador que mediu a altura do Pico Ruivo, publicado em Phil. Mag.
Dr. Hochtetter
Observador que mediu a altura do Pico Ruivo
Engenheiro Antonio P. de Azevedo
Observador que mediu a altura do Pico Ruivo
Gourlay
Observador que mediu a altura do Pico Ruivo em 1811
J. Gray Smith
Observador que mediu a altura do Pico Ruivo
Smith
Observador que mediu a altura do Pico Ruivo, publicado em Irish Trans
T. E. Bowdich
Naturalista e viajante inglês.

Anos mencionados neste artigo

1811
Gourlay mediu a altura do Pico Ruivo
1821
Clavering e Sabine mediram a altura do Pico Ruivo
1823
Bowdich mediu a altura do Pico Ruivo por barometro e trigonometria
1826
Dr. Heineken mediu a altura do Pico Ruivo
1838
Oficiais da Expedição Exploradora Americana mediram a altura do Pico Ruivo
1839
Oficiais dos navios britanicos Erebus e Terror mediram a altura do Pico Ruivo
1844
Capitão Vidal e Engenheiro Antonio P. de Azevedo mediram a altura do Pico Ruivo
1859
Dr. Hochtetter mediu a altura do Pico Ruivo
1861
J. Gray Smith mediu a altura do Pico Ruivo
1903
Coronel Eduardo Agostinho Pereira mediu a altura do Pico Ruivo
1914
Comissão Geodesica presidida pelo coronel Alfredo Durão mediu a altura do Pico Ruivo
1923
Divisão dos montados.

Localizações mencionadas neste artigo

Curral das Freiras
Uma das freguesias de onde parte uma das estradas para o Pico Ruivo
Faial
Uma das freguesias que abrange algumas ramificações do Pico Ruivo
Madeira
O pico de maior elevação, oferecendo um vasto panorama da ilha
Pico das Torres
Rodeado de vários cumes secundários.
Pico do Areeiro
Com escarpas avermelhadas.
Santana
Localização do cume ou ponto mais alto do Pico Ruivo
São Jorge
Uma das freguesias que abrange algumas ramificações do Pico Ruivo