História

Ribeiro Seco (Ponte do)

O ilustre Mouzinho de Albuquerque, quando prefeito da Madeira, concebeu o projecto de lançar uma ponte pênsil sobre o Ribeiro Seco, tendo para esse fim começado a fazer construir dois gigantescos pilares, afora dois fortíssimos encontros em cada uma das margens do ribeiro. «Entrava no piano da obra, diz Sérvulo de Meneses na Colecção de documentos relativos á construção da ponte do Ribeiro Seco, a ideia de levantar um monumento á memória do imortal Duque de Bragança, magnânimo libertador dos portugueses, e nesta conformidade devia a obra ser magnífica e grandiosa». Com a saída de Mouzinho para Lisboa, pararam os trabalhos da ponte, tendo procurado mais tarde o barão de Lordelo continua-los, mas sem resultado, depois de haver assentado que a mesma ponte seria de pedra, e não pênsil. Foi em tempo deste governador que se principiou a estrada que comunica o Funchal com Câmara de Lobos. Em fins de 1846, tendo vindo governar a Madeira o conselheiro José Silvestre Ribeiro, resolveu ele chamar a atenção dos engenheiros sobre o modo de levar a efeito a obra projectada por Mousinho de Albuquerque, mas só em 1848 se pôde dar começo aos trabalhos, depois do mesmo governador ter obtido a promessa de donativos que chegavam para satisfazer a quarta parte das despesas em que haviam sido orçados os mesmos trabalhos. A arrematação das obras da ponte teve lugar no dia 27 de Fevereiro de 1848, e, no dia 6 de Março seguinte, começaram os trabalhos, tendo pouco antes o Governador aberto uma subscrição para os gastos da ponte. As obras foram arrematadas pela quantia de 5.799$000 réis, sendo arrematantes o mestre de obras José Pereira e seus sócios Antonio Joaquim Marques Basto, João António Bianchi e Francisco Luis Pereira. Por meio de donativos, conseguiu o Governador obter inteiramente o preço da arrematação, mas as obras importaram em 8 227$302 réis, tendo tido, por conseguinte, os arrematadores um prejuízo de 2.428$302 réis, o qual não existiria, segundo declaração destes, se não houvesse todo o empenho «em apresentar obra bem acabada e duradoura, satisfazendo com mão larga a todas as indicações do engenheiro director». Os trabalhos da ponte foram executados sob a direcção do capitão de engenharia Tiberio Augusto Blanc e ficaram acabados em Fevereiro de 1849, tendo este oficial comunicado ao Governador Civil, em seu oficio de 5 de Dezembro do mesmo ano, estar concluida a grandiosa obra com toda a solidez e perfeição, havendo a sociedade arrematadora excedido em muitos pontos às obrigações a que se tinha comprometido, levada unicamente pelo desejo de que a mesma obra satisfizesse plenamente à espectaçâo pública e não desmentisse o credito dos sócios, sendo esta a principal causa do grande prejuizo que sofreram. Entre as pessoas que concorreram com dádivas para a construção da ponte do Ribeiro Seco, figura a rainha Adelaide, de Inglaterra, que deu 480$000 réis, tendo o Governador Civil agradecido, por meio da imprensa, a todos os subscritores, o generoso auxilio que lhe prestaram para poder levar a efeito a grandiosa obra que empreendera. Muitos são os indivíduos que se têm suicidado no Ribeiro Seco, aproveitando a grande altura em que está a parte média da ponte, mas de todas as mortes aí ocorridas, a que maior sensação produziu talvez no Funchal, foi a de um indivíduo de boas famílias que pelos anos de 1860 se atirou ao fundo do ribeiro, por ver repelidos os protestos de amor que ousara dirigir à esposa dum governador civil. Uma carta que ficou sem resposta e á qual se seguiu a proibição de voltar ao palácio de S. Lourenço, onde antes era sempre bem recebido, levaram o desditoso amante a pôr termo à existência pela forma que fica apontada, seguindo-se a este acontecimento trágico o acto burlesco do filho do suicida propor ou querer propor um duelo ao governador por considera-lo responsável pela morte do pai. Vid. Estrada e Ponte Monumental.

Pessoas mencionadas neste artigo

Antonio Joaquim Marques Basto
Sócio arrematante das obras da ponte
Barão de Lordelo
Tentou continuar os trabalhos da ponte
Francisco Luis Pereira
Sócio arrematante das obras da ponte
José Pereira
Mestre de obras
José Silvestre Ribeiro
Governador da Madeira
João António Bianchi
Sócio arrematante das obras da ponte
Mouzinho de Albuquerque
Prefeito da Madeira
Rainha Adelaide
De Inglaterra
Sérvulo de Meneses
Autor da Colecção de documentos relativos á construção da ponte do Ribeiro Seco
Tiberio Augusto Blanc
Capitão de engenharia

Anos mencionados neste artigo

1846
Início da estrada que comunica o Funchal com Câmara de Lobos
1848
Início dos trabalhos da ponte
1849
Conclusão dos trabalhos da ponte
1860
Suicídio de um indivíduo de boas famílias