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Ribeiro de Mendonça (Marceliano)

Marceliano Ribeiro de Mendonça, sem possuir cursos superiores ou universitários e sem ter saído do meio restrito em que sempre viveu, conseguiu pelas fulgurações do seu brilhante talento, pela sua vasta ilustração e pelo mais acendrado amor ao estudo, exercer entre nós uma verdadeira supremacia intelectual, que jamais alguém pensou em contestar-lhe.

Nasceu nesta cidade a 18 de Abril de 1805, e era filho de Jerónimo Ribeiro dos Santos e de D. Juliana Rita de Mendonça. Tinha concluído o curso secundário ou as aulas do Pátio, como então se dizia, quando D. Miguel se proclamou rei absoluto e enviou à Madeira a celebre e ominosa devassa, que nas suas malhas envolveu tantos madeirenses, obrigando muitos deles à expatriação ou ao homizio. Marceliano Ribeiro procurou asilo seguro em casa dum súbdito britanico e ali se conservou homiziado seis longos anos, até que em Junho de 1834 se implantou o governo constitucional neste arquipélago.

Nesse triste e forçado retiro, que o nosso biografado tão bem soube aproveitar, adquiriu ele o habito perseverante do estudo, que conservou até a morte, e foi sobretudo ali que enriqueceu a sua brilhante inteligência com a notável ilustração que chegou a possuir. As suas predilecções literárias e cientificas levaram-no para o estudo das línguas portuguesa e latina, em que foi mestre consumado, e para os estudos filosóficos, em que se revelou um espírito superior. São disso prova sobeja os elementos de gramática latina que publicou em 1835 e os elementos de filosofia que escreveu para uso dos seus alunos.

Marceliano Ribeiro notabilizou-se principalmente como professor, tendo como tal adquirido uma grande reputação em todo o país. Além das suas maneiras cativantes e trato extremamente afável, que logo ganhavam a simpatia do aluno, possuía o raro condão de saber ensinar, tendo uma exposição fácil e clara, a que dava um grande brilho e relevo o tom de convicção com que falava e o entusiasmo que comunicava ás suas palavras. Sendo um discursador inominável e conhecendo profundamente as matérias que preleccionava, os seus discípulos não se cansavam nunca de ouvi-lo, extasiados a vista da beleza da forma e da alteza dos conceitos. Foi professor das aulas do antigo Pátio, e, quando em 1836 se criou o Liceu do Funchal, fez parte do corpo docente do novo estabelecimento de instrução, ensinando as línguas portuguesa e latina, e regendo depois a cadeira de filosofia.

Nomeado reitor do Liceu e comissário dos estudos, evidenciou-se notavelmente no desempenho destes cargos, sobretudo pelo impulso dado ao derramamento da instrução primaria, pelos novos métodos de ensino que introduziu e ainda pelo escrupuloso cuidado com que procedia a selecção dos professores. Os seus relatórios nesta especialidade são verdadeiramente modelares, tendo alguns sido publicados na revista cientifica O Instituto. Para estimular os professores primários no exercício do seu ministério, criou uma «Associação de Conferencias», em que se versavam os assuntos que mais de perto interessavam à instrução popular. Pelo muito zelo e dedicação que desenvolveu no alargamento do ensino primário, pode sem duvida afirmar-se que foi ele o primeiro que neste arquipélago verdadeiramente se interessou pela instrução popular, bastando este facto para tornar abençoada entre nós a sua memória.

Marceliano Ribeiro era orador eloquente e de aprimorada linguagem, destacando-se entre os seus discursos as orações de sapiência proferidas na abertura solene do Liceu e as conferencias publicas que fêz sobre o «belo». Exerceu entre nós os cargos de presidente da Câmara do Funchal, secretario geral do Governo Civil, reitor e professor do Liceu, comissário dos estudos, vogal do conselho de distrito, além doutras comissões de serviço publico. Teve uma larga e valiosa colaboração em muitos periódicos madeirenses e deixou algumas obras manuscritas, publicando os Princípios de gramática geral aplicados á língua latina, a Filosofia em Coimbra e no Funchal, o Método paralelo de leitura e escrita e o romance histórico Gaspar Borges, além dos seus importantes relatórios. Faleceu no Funchal, a 5 de Agosto de 1866, tendo 61 anos de idade.

Pessoas mencionadas neste artigo

D. Juliana Rita de Mendonça
Mãe de Marceliano Ribeiro de Mendonça
D. Miguel
Rei absoluto
Jerónimo Ribeiro dos Santos
Pai de Marceliano Ribeiro de Mendonça