Princesas Marroquinas
A 19 de Abril de 1793, arribou ao porto do Funchal um bergantim marroquino, trazendo a seu bordo a esposa, três filhas e dois filhos do principe Muley Abdessalam, bem como nove concubinas deste e algumas outras pessoas de alta categoria em Marrocos, entre as quais se contava a viúva do antigo imperador Muley Ismael.
A comitiva da família do príncipe era constituída por duas camareiras, um eunuco, um arrais condutor, um secretario, um preto porteiro, fazendo as vezes de eunuco, dezassete criadas musicas trinta criados, dezassete mulheres dos criados, cento e dezanove escravos, escravas e filhos, onze passageiros moiros, um judeu e uma judia, amiga do arrais.
Contando com os tripulantes, havia a bordo do bergantim mais de duzentas pessoas, que vinham todas imensamente incomodadas, tanto pela pequenez do navio como pela falta de agua que havia a bordo.
O bergantim dirigia-se para Salé, onde Muley Abessalam pretendia pôr a sua família ao abrigo dos perigos da guerra civil que assolava então o império de Marrocos, mas tendo encontrado ventos contrários que o afastaram do porto do seu destino, viu-se o seu comandante obrigado a conduzi-lo ao porto do Funchal, onde sabia que encontraria recursos para poder continuar a viagem em melhores condições.
As princesas foram muito bem recebidas no Funchal tanto pelo governador e capitão-general D. Diogo Forjaz Coutinho como pelo cônsul marroquino Diogo Teles, tendo aquela autoridade mandado aprontar dois bergantins portugueses, pelos quais fêz distribuir os viajantes, embarcando também em um dêles o referido consul, o qual se propunha acompanhar as princesas até Salé.
A viagem não foi feliz. Afastados os navios da sua derrota depois de deixarem o porto do Funchal, tiveram as princesas de desembarcar na ilha de S. Miguel, donde passaram a Lisboa, retirando finalmente para o seu país no dia 8 de Agosto, a bordo de tres embarcações que o governo português pusera á sua disposição.
O cônsul Domingos Teles só acompanhou as princesas até a ilha de S. Miguel, abandonando-as aí, sem se dar ao incomodo de justificar o seu procedimento.