População
No artigo Povoamento e Colonização, daremos rápida notícia acerca da forma como se realizou entre nós o desenvolvimento da população, ao se iniciarem os árduos trabalhos da primitiva colonização madeirense.
São bem escassos os elementos que nos deixaram as antigas crónicas a respeito desse povoamento no que particularmente se refere ao número, posição social, qualidades pessoais e terras de origem dos primeiros colonizadores.
Vagamente se sabe que entre eles se contavam indivíduos de nobre ascendência, outros das classes populares, mecânicos e cultivadores das terras, e também alguns criminosos que cumpriam suas penas nas prisões, informando-nos Gaspar Frutuoso que João Gonçalves Zargo «recusara trazer os culpados por causa da fé, ou traição, ou por ladrão».
Não se sabe o número aproximado desses indivíduos e também se desconhece a proporção em que as diversas camadas sociais entrariam na formação dessas primeiras levas de povoadores. Com fundamento se conjectura que não seriam poucos, crescendo breve e rapidamente esse número com a vinda frequente de outros colonos e especialmente com a grande legião de escravos mouros e negros, tornada logo uma avultada multidão. Assim o exigiam os largos e penosos trabalhos do arroteamento das glebas virgens, estimulados os ativos cultivadores pela exuberante fertilidade do solo e pela excelente benignidade do clima.
Foi na segunda metade do século XV que o povoamento tomou um mais largo incremento, tanto de povoadores vindos do continente português e de inúmeros escravos africanos, como ainda de muitos estrangeiros de vários países europeus, alguns dos quais oriundos de antiga família, que vinham procurar nesta nova terra da promissão o que a própria átria não poderia dar-lhes.
Seria de bastante interesse a organização duma estatística da população deste arquipélago desde os tempos primitivos da sua colonização até ao presente, mas poucos elementos possuímos para um trabalho completo desta natureza, sobretudo com relação ao século XV e à primeira metade do século XVI. A partir dos meados do século XVI, não seria então impossível a organização dessa estatística, com resultados muito aproximados da verdade, aproveitando-se os arquivos das igrejas paroquiais, pois em todas ou quase todas se encontra o lançamento regular dos assentos dos batismos, casamentos e óbitos nelas ocorridos desde o terceiro quartel daquele século. Não é muito difícil esse estudo acerca de cada freguesia e fácil depois seria realizá-lo com respeito a todo o arquipélago. À parte as epidemias ou outras calamidades públicas, mantinha-se geralmente nessas épocas uma proporção uniforme entre o número de habitantes duma certa localidade e o número de nascimentos e óbitos nela ocorridos, sendo deste modo possível organizar-se uma estatística regular da população.
Azurara conta que «ao tempo da feitura» havia na Madeira «C L moradores», «afora outras gentes que hi avya, assy como mercadores, e homees e molheres solteiros, e mancebos».
Quanto ao Porto Santo, diz o anotador das Saudades que em 1529 tinha aquela ilha mais de 800 habitantes, e afirma Frutuoso que em 1590 havia ali uns 400 fogos, em que portanto habitavam cerca de 1600 habitantes. Acerca desta afirmativa de Frutuoso, diz o dr. Álvaro de Azevedo: «comquanto pareça haver nisto exageração, por constar dos Anais da Ilha do Porto Santo que em 1850 a população era de 1799 pessoas, isto é uns 450 fogos, e do censo feito em 1864 que os fogos eram 363 com 1425 habitantes, cremos ser exato o dito de Frutuoso; a ilha do Porto Santo só progrediu nos primeiros cento e cinquenta anos desde o descobrimento; depois, a escassez dos seus meios naturais de produção, as amiudadas invasões dos corsários, e o abandono em que a deixaram os donatários, os seus mais opulentos moradores, e até os governos, salvo o marquês de Pombal, a condenaram ao estado decadente em que até agora tem jazido.»
A população atribuída à Madeira e Porto Santo em diferentes épocas, consta do mapa seguinte, aproveitando-se os elementos fornecidos pelo estudo Madeira do «Dicionário Português Ilustrado», por artigos dispersos em diversos jornais e pelos últimos censos da população.
Anos | Habitantes |
---|---|
1500 | 16 000 |
1572 | 19 172 |
Ano | População |
---|---|
1580 | 21 800 |
1590 | 29 548 |
1614 | 28 345 |
1679 | 40 000 |
1750 | 59 143 |
1754 | 51 143 |
1767 | 64 624 |
1779 | 70 000 |
1781 | 70 443 |
1794 | 83 115 |
1797 | 97 390 |
1805 | 84 364 |
1813 | 92 382 |
1818 | 96 297 |
1819 | 96 752 |
1825 | 102 000 |
1835 | 113 828 |
1839 | 114 147 |
1843 | 117 372 |
1849 | 108 274 |
1851 | 110 340 |
1854 | 107 088 |
1858 | 98 620 |
1864 | 110 349 |
1871 | 116 706 |
1878 | 130 473 |
1890 | 132 088 |
1900 | 148 263 |
1911 | 167 783 |
1920 | 179 002 |
1930 | 211 601 |
1940 | 249 771 |
A população dos onze concelhos do arquipélago, segundo os dados fornecidos pelos três ultimos recenseamentos é a seguinte:
Concelho | 1920 | 1930 | 1940 |
---|---|---|---|
Funchal | 51 996 | 68 630 | 87 140 |
Camara de Lôbos | 17 535 | 21 806 | 24 500 |
Ribeira Brava | 14 149 | 16 394 | 19 382 |
Ponta do Sol | 11 519 | 13 290 | 14 911 |
Calheta | 19 760 | ||
Porto do Moniz | 4 552 | 5 062 | 8 170 |
S. Vicente | 9 146 | ||
Santana | 9 778 | ||
Machico | 17 286 | ||
Santa Cruz | 21 038 | ||
Porto Santo | 2 243 | 2 490 | 2 701 |
O movimento populacional das cinqüenta freguesias em que está dividido o distrito e relativo ao mesmo periodo de tempo, conforme os dados estatísticos já conhecidos, é o seguinte:
Freguesia | 1920 | 1930 | 1941 |
---|---|---|---|
Santa Luzia | 5 667 | 7 484 | 9 617 |
S. Pedro | 2 767 | 3 127 | 3 888 |
Santa Maria Maior | 8 212 | 10 594 | 13 220 |
S. Martinho | 6 198 | 9 439 | 11 631 |
Santo Antonio | 9 915 | 11 688 | 13 567 |
S. Roque | 3 241 | 4 104 | 5 576 |
S. Gonçalo | 4 319 | 6 023 | 9 341 |
Curral das Freiras | 1 476 | 1 919 | 2 168 |
Estreito de Camara de Lobos | 6 248 | 7 294 | 8 575 |
Quinta Grande | 1 062 | 1 485 | 1 615 |
Campanario | 4 048 | 4 852 | 5 856 |
Ribeira Brava | 5 830 | 6 959 | 8 346 |
Serra de Agua | 1 783 | 1 867 | 2 097 |
Tabua | 2 488 | 2 665 | 3 083 |
Ponta do Sol | 6 190 | 7 153 | 7 789 |
Canhas | 5 329 | 6 037 | 7 386 |
Arco da Calheta | 4 951 | 5 765 | 5 824 |
Calheta | 3 894 | 4 380 | 5 067 |
Jardim do Mar | 4 343 | 4 925 | |
Prazeres | |||
Paul do Mar | 1 483 | 1 723 | 2 143 |
Fajã da Ovelha | 2 562 | 2 459 | 2 581 |
Ponta do Pargo | 2 527 | 2 708 | 3 054 |
Achadas da Cruz | 430 | ||
Porto do Moniz | 2 410 | ||
Ribeira da Janela | 1 141 | 1 148 | 1 319 |
Seixal | 500 | 528 |
Localidade | Dados Populacionais |
---|---|
S. Vicente | 5 426 5 444 6 383 |
Ponta Delgada | 1 521 1 792 2 033 |
Boaventura | 2 199 2 427 3 133 |
Arco de S. Jorge | 651 667 870 |
S. Jorge | 2 240 2 522 3 441 |
Santana | 3 123 3 424 4 517 3 235 3 809 |
Faial | 2 844 |
S. Roque do Faial | 920 1 062 1 410 |
Porto da Cruz | 5 814 4 388 4 944 |
Caniçal | 657 |
Machico | 8 619 9 884 10 820 |
Santo da Serra | 2 301 2 378 3 111 |
Agua de Pena | 1 242 1 416 1 613 |
Santa Cruz | 7 472 8 856 8 511 |
Gaula | 3 335 3 629 3 753 |
Camacha | 3 965 4 530 5 066 |
Caniço | 4 899 6 265 7 011 |
Ano | População do Funchal |
---|---|
1864 | 17 677 |
1878 | 19 752 |
1890 | 18 778 |
1909 | 20 844 |
1910 | 24 687 |
1920 | 24 238 |
1930 | 31 352 |
A pletora populacional que atualmente se observa na Madeira não é um fenômeno exclusivo dos nossos dias. Em diversas épocas tem-se verificado esse excesso de população, que conjugado com outras graves circunstâncias ocasionais determina o aparecimento de temerosas crises, provocando o forçado recurso da emigração. Seria útil e interessante a elaboração de um pormenorizado trabalho, em que fossem estudadas as causas dessas crises, os meios adotados para as combater e os efeitos salutares que deles resultaram. Não pode duvidar-se que essas voluntárias expatriações, apesar dos inconvenientes que as acompanham, são geralmente de benéficas consequências, devendo especializar-se a que em larga escala se fez para a Guiana Inglesa em meados do século passado, traduzindo-se em apreciáveis elementos de prosperidade para esta ilha. > Vid. Emigração.
Oferece particular interesse a notícia que nos fornece o "Archivo da Marinha e Ultramar" referente ao ano de 1762, dando-nos a informação de que o então governador e capitão-general José Correia de Sá, em comunicação feita ao governo da Metrópole a 23 de Julho desse ano, participava a "partida para Lisboa de diferentes indivíduos, que pelo excesso da população não logravam encontrar meios de subsistência".
É a simples menção de um fato, que através do tempo e com maior ou menor intensidade se vem verificando entre nós. O mal agrava-se dia a dia e reveste as mais assustadoras proporções, tendo despertado na imprensa local uma bem orientada campanha, que deve provocar as mais atentas preocupações de "governantes e governados".