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Ponta Delgada (Freguesia da )

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Freguesia da ). Não é facil acertar com a verdadeira origem do nome desta freguesia. Uma pessoa ilustrada que ali residiu alguns anos e que procedeu a serias pesquisas informa-nos que aquela denominação procede de Antonia Delgada viúva do capitão Antonio Gonçalves de Castro e falecida a 8 de Outubro de 1606. A esta afirmativa, temos a contrapor a existencia de varios alvarás regios do século XVI, sendo o mais antigo de 1552, registados nos livros da antiga Provedoria, em que se fazem referencias directas á freguesia da Ponta Delgada. Também Gaspar Frutuoso lhe dá em 1590 o nome de Ponta Delgada, dizendo que é «assim chamada por ser ali hum passo muito perigoso, que se passa por cima de dous páos, que atravessam de uma rocha a outra, e em tanta altura fica o mar por baixo que se perde a vista dos olhos» Nào é também por certo, uma explicação muito satisfatoria o chamar-se Ponta Delgada a uma passagem apertada e perigosa, sobranceira ao mar.

A este lugar se chamou nos tempos primitivos da colonização Senhor Jesus, por motivo da capela desta invocação que ali existia, e ainda deste modo foi conhecido depois da criação da paroquia, mas é indubitavel que desde meados do século XVI se generalizou o nome de Ponta Delgada, por que se tornou depois conhecido.

Manuel Afonso de Sanha foi um dos mais antigos povoadores desta ilha e em 1469 obteve vastas terras de sesmaria, que se estendiam desde a Ponta Delgada até á Ribeira das Vacas. Fundou a capela do Senhor Bom Jesus, que foi o centro duma fazenda povoada, formando esta o nucleo primitivo de habitantes que constituíram a futura paroquia.

A freguesia da Ponta Delgada deve ter sido criada por fins do segundo quartel do seculo XVI, ao menos como curato autonomo, e é uma das mais antigas da costa-norte desta ilha. Teve como sede a capela do Senhor Bom Jesus, cujo ano de construção se ignora, mas que não deve ser muito posterior aos primeiros anos do século XVI, pois o seu fundador é dado como falecido em 1507. Sofreu alguns repairos e modificações no ano de 1636 e foi notavelmente acrescentada por 1700. Nos principios do século XIX, passou por novas reparações, ficando um dos mais belos templos da diocese, merecendo especial menção a capela-mor, a capela do Santissimo Sacramento e a sacristia. A 12 de Julho de 1908, foi esta igreja completamente destruida por um violento incendio, que a reduziu a um montão de escombros. Devido principalmente aos diligentes esforços e á dedicação sem limites do pároco de então, o padre Casimiro Augusto de Freitas e Abreu, se procedeu á reconstrução do templo em 1910 sendo solenemente sagrado no ano de 1919.

Na noite de 30 de Dezembro de 1847 se cometeu nesta igreja um importante roubo de grande número de objectos de prata que causou muita sensação em tôda a ilha. Foram descobertos os autores do roubo, sendo restituídos a maior parte dos objectos roubados.

O curato da Ponta Delgada talvez dependente da freguesia de Machico, só foi definitivarnente erecto em paroquia pelo ano de 1577, sendo seu primeiro vigario o padre Antonio Lopes seguindo-se-lhe no exercicio das funções paroquiais os padres Belchior de Insola, Rodrigo Afonso. Aleixo, Gil, etc. O alvará de 3 de Fevereiro de 1552 acrescentou 2$000 réis anuais á congrua do cura que era então de 6$000 réis por ano e 1 marco de prata. Ao vigario, por alvará regio de 28 de Fevereiro de 1577, foi elevado o seu vencimento a 20$000 réis anuais e depois a 25$000 réis, por alvará de 2 de Junho de 1581 tendo-lhe o alvará de 12 de Dezembro de 1588 fixado o mesmo ordenado em 16$000 réis por ano e mais um moio de trigo e uma pipa de vinho.

A area desta freguesia compreendia os terrenos que ao presente a constituem e ainda a actual paroquia de Boaventura, sendo por alvará regio de 4 de Fevereiro de 1733 criado um curato, que teve sua sede na capela de Santa Quiteria, na referida freguesia da Boaventura, como mais largamente se pode ver no artigo que a ela consagramos, a pag. 154 do I.º volume desta obra.

A capela do Senhor Bom Jesus foi centro duma antiga romagem, que ainda hoje é das mais concorridas de tôda a ilha. Há noticia de que já se realizava em 1577, sendo, portanto, a romaria de mais remota epoca que se faz entre nós. A romagem do Senhor Jesus da Ponta Delgada, de Nossa Senhora do Monte e do Senhor dos Milagres, de Machico, são as mais antigas, as mais concorridas e as mais caracteristicas desta diocese.

Tem esta freguesia a capela dos Reis Magos que era da casa Carvalhal, e houve a de Santo Antonio, no sitio do Pico, e outra no sitio dos Ladrilhos, das quais nos ocuparemos em outro lugar desta obra.

Foi antigo morador desta freguesia e nela morreu a 15 de Julho de 1598, Antonio de Carvalhal, do qual diz Gaspar Frutuoso: "homem tão cavalleiro como esforçado por sua pessoa, nobre, e magnifico por sua condição e grande virtude, com a qual por sua magnificencia tem adquirido tanta fama, e ganhado tanto nome com as vontades dos homens, que por isso lhe obedecem; e se for necessario dar um brado, ajuntará quinhentos homens da banda do Norte a seu serviço, para qualquer feito de guerra, como já lhe aconteceo, ou para qualquer outro; e não sem rasão, porque sua casa he hospital e acolheita de todo o pobre, hospedagem dos caminhantes, e refugio finalmente de necessitados. Assi despende sua fazenda toda (que muita possuhe desta banda) nestas obras, que em sua casa se gastão em cada anno trinta moyos de trigo, fóra outros muitos que empresta, e com elle soccorre a quem tem necessidade, que todos recolhe de sua lavoura". E a seguir narra pormenorizadamente o historiador das ilhas muitas façanhas e episodios de fôrça e valentia praticados por Antonio de Carvalhal, como se pode ler a pag. 101 e 102 das Saudades da Terra.

Chamou-se em outro tempo á freguesia da Ponta Delgada a côrte do norte, por haver nela muitas casas de antigas e nobres familias, que ali residiam ou ali passavam uma parte consideravel do ano. Existiu nela a sede de alguns morgadios. Manuel Afonso de Sanha, instituíu os vinculos do Ribeiro do Pêso e da Ribeira do Inferno.

Mais duma vez se tem aventado a ideia de transferir para esta paroquia a capital do concelho e comarca, que tem suas sedes em S. Vicente. Varios magistrados judiciais ponderaram já ao governo central a necessidade e conveniencia desta mudança.

As principais culturas agricolas são a vinha e a cana de açucar, havendo dois engenhos para o fabrico de aguardente. A principal levada destinada á irrigação desta paróquia é a chamada levada Grande, que encabeça na ribeira dos Moinhos e atravessa parte da freguesia da Boaventura.

Tem esta freguesia duas escolas primarias oficiais, uma para cada sexo, estação telegrafica aberta em Outubro de 1905, e é sede dum partido medico, que compreende também a paróquia da Boaventura (1921).

O movimento do seu Porto é relativamente importante, aproveitando a esta e ás freguesias da Boaventura e Arco de S. Jorge. É ali o terminus das viagens que os vapores costeiros, partindo do Funchal, fazem alternadamente, por leste e oeste para o norte da ilha.

Nas serras desta freguesia há o encantador sitio chamado o Topo, donde se descortinam largos e surpreendentes horizontes.

São naturais desta paroquia o visconde de Gonçalves de Freitas e os conselheiros Antonio Gonçalves de Freitas e Francisco Antonio de Abreu (V. estes nomes).

Pessoas mencionadas neste artigo

Antonia Delgada
Viúva do capitão Antonio Gonçalves de Castro e falecida a 8 de Outubro de 1606
Antonio Gonçalves de Freitas
Natural da freguesia
Antonio de Carvalhal
Antigo morador e pessoa de grande virtude
Francisco Antonio de Abreu
Natural da freguesia
Manuel Afonso de Sanha
Um dos mais antigos povoadores desta ilha e em 1469 obteve vastas terras de sesmaria, que se estendiam desde a Ponta Delgada até á Ribeira das Vacas instituidor dos vinculos do Ribeiro do Pêso e da Ribeira do Inferno
Padre Casimiro Augusto de Freitas e Abreu
Dedicação sem limites
Visconde de Gonçalves de Freitas
Natural da freguesia

Anos mencionados neste artigo

1552
Acrescentou 2$000 réis anuais á congrua do cura que era então de 6$000 réis por ano e 1 marco de prata
1577
Definitivarnente erecto em paroquia realização da romaria
1581
Elevado o seu vencimento a 20$000 réis anuais e depois a 25$000 réis
1588
Fixado o mesmo ordenado em 16$000 réis por ano e mais um moio de trigo e uma pipa de vinho
1590
Gaspar Frutuoso lhe dá em 1590 o nome de Ponta Delgada
1598
Morte de Antonio de Carvalhal
1636
Sofreu alguns repairos e modificações
1700
Notavelmente acrescentada
1733
Criado um curato, que teve sua sede na capela de Santa Quiteria
1905
Abertura da estação telegrafica
1921
Criação do partido medico