ArquiteturaHistória

Palácio de S. Lourenço

Frutuoso, referindo-se á fortaleza de S. Lourenço, a pág. 84 das Saudades da Terra, diz o seguinte: «e assi como tem dentro agua, não lhe faltam atafonas, fornos e celleiros para recolher os mantimentos, e ricos aposentos onde o capitam pousa, adornados com seu jardim e frescura».

Vê-se, pois, que em 1590, época em que foram escritas as Saudades, a autoridade superior do arquipélago, que era então Tristão Vaz da Veiga, capitão-mor da guerra e governador geral, residia em S. Lourenço, e, se lermos a descrição que faz o mesmo Frutuoso do saque dado na cidade do Funchal por corsários franceses em 1566, vê-se também que já neste ano havia na fortaleza salas e outras acomodações.

Diz o dr. Azevedo que a fortaleza de S. Lourenço só desde os fins do século XVIII é denominada palácio, por ser a residência das autoridades superiores militar e civil do arquipélago, devendo acrescentar-se que as casas do mesmo edifício sofreram modificações mais ou menos notáveis em diferentes épocas.

Em 1689, executaram-se obras nas casas de S. Lourenço, que importaram em 1.007.000 réis, como se vê dum mandado do Conselho da Fazenda, datado de 8 de Novembro do mesmo ano, e em 14 de Maio de 1699 houve um incendio nas mesmas casas, sendo os prejuízos reparados com dinheiro da fortificação, levantado sob a responsabilidade do capitão-general e do provedor.

Lemos em duas obras inglesas relativas á Madeira que o palácio de S. Lourenço sofreu grandes alterações, sendo em parte reconstruído, durante a ocupação do general Beresford, em 1808, o que, a ser certo, não obstou a que doze anos mais tarde o governador Botelho reclamasse diversas obras para o mesmo palácio, algumas de muita urgência.

O edifício, em 1820, tinha «quatro salas em frente a um corredor que terminava no baluarte a oeste da ilha», havendo na segunda destas salas uma escada descoberta que ia dar a um pátio com 176 palmos de comprido e 86 de largo, no qual se entrava pela porta da fortaleza.

Examinando a vista do palácio de S. Lourenço, que acompanha a Descripção da ilha da Madeira feita em 1817 por Paulo Dias de Almeida, nota-se que na parte do edifício que olha para o mar, só havia então janelas de sacada do lado oeste, duas das quais na extremidade ocidental da parte menos saliente do edifício, sendo as janelas restantes idênticas ás da actual residência dos comandantes militares. Foi nos fins do terceiro quartel do século XIX, que a residência dos governadores civis sofreu grandes alterações interior e exteriormente, construindo se novas janelas de sacada e alteando-se os tectos das salas do lado do mar. Cremos que as obras ficaram concluídas em 1873 ou 1874, não tendo a residência dos comandantes militares sido também melhorada, devido a obstáculos criados pelo coronel Macedo e Couto, então governador militar da Madeira.

Numa das salas da parte do palácio de S. Lourenço ocupada pela autoridade civil, via-se antes da proclamação da Republica uma colecção de retratos de antigos governadores, figurando entre eles o de João Gonçalves Zargo.

Fazia parte do edifício do palácio de S. Lourenço a capela que existiu no Funchal, consagrada ao mesmo santo, a qual cremos que desapareceu no terceiro quartel do século XIX.

Teve a capela seus capelães privativos, sendo o primeiro de que achamos noticia o padre José da Costa de Lima, nomeado em 1641, o qual recebia de ordenado «o que montasse uma praça de soldado».

«Nos dias de gala fazia-se o serviço domestico pela capela, tapando-se o altar com uma cortina».

Lê-se num documento do primeiro quartel do seculo XIX que na residência dos governadores houve sempre uma sala propria armada de seda carmezim, com docel, e debaixo dele a Real Efigie dos Senhores Reis de Portugal, onde nos dias solenes concorriam a nobreza, clero e autoridades a render, na augusta presença daquelas reaes efigies, o tributo da sua fiel vassalagem».

O decreto n.° 29.742, de 12 de Julho de 1939, concedeu um subsidio á Junta Geral do Distrito para proceder a diversos trabalhos de reparação e adaptação em diversas dependências do Palácio de São Lourenço, que desde há muito se tornava necessário realizar.