CulturaHistória

Padrões Memoráveis

Tendo próxima afinidade com os artigos

Monumentos, Monumentos Nacionais, Moradias de Zargo e Patrimonio Artistico, deixamos neste lugar umas rápidas notas acerca dos lugares e edifícios que devem ser considerados como Padrões Memoráveis e que oferecem particular interesse á história do nosso arquipélago.

Madeira

. Tem-se dito e várias vezes o havemos repetido que a Madeira é o grande padrão imorredouro, que verdadeiramente marca o auspicioso inicio dessa portentosa odisseia desenvolvida através dos oceanos e continentes desconhecidos.

Antes dos portugueses demandarem estas ignoradas e misteriosas ilhas, tinham realizado empreendimentos arrojados, mas quase inteiramente infrutíferos, e somente depois deste maravilhoso encontro é que descobriram os Açores, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, o Cabo da Boa Esperança, a India, o Brasil e essa infinidade de ilhas dispersas na vastidão do Atlântico e do Pacífico.

A «descoberta» ou «reconhecimento» deste arquipélago não representa apenas uma notavel expansão territorial dos nossos domínios como nação, mas assinala a nossa primeira grande conquista como navegadores e futuros dominadores dos mares: Para uma nação, cujo principal papel na historia da humanidade foi o das descobertas e empresas marítimas, não podem deixar de merecer o mais devotado interesse e a mais sentida veneração os lugares em que começaram a desenvolver-se esses gloriosos empreendimentos e de modo especial a acção eminentemente civilizadora que eles representavam.

Machico

. Esta localidade ocupa um lugar assinalado na historia do arquipélago madeirense. Ao seu nome andam indissoluvelmente ligados o auspicioso descobrimento, o primeiro desembarque e o começo do povoamento destas longínquas e ignoradas paragens. Pode afirmar-se, sem uma exagerada hipérbole, que a grande expansão colonial e a obra notável da colonização dos portugueses teve ali o seu inicial ponto de partida. É, por isso, bastante para lamentar, que, no local chamado o Desembarcadouro, não se tenha ainda levantado um padrão comemorativo, que recorde a contemporâneos e a vindouros os sucessos gloriosos, que há mais de cinco séculos começaram a desenrolar-se nesse sitio memorável.

Refere-nos Gaspar Frutuoso, na sua pitoresca linguagem, que os descobridores, ou antes primeiros povoadores, foram «desembarcar na rocha, onde estão pedras e baixos, que se pode facilmente desembarcar neles, por aparcelado que ande o mar, porque está resguardado com a rocha: e este logar se chama hoje (1590) o Desembarcadouro, onde também desembarcaram os de Machim. . . ».

Embora não se possa dar crédito á tão conhecida e celebrada lenda, muitas e ponderosas razões persuadem que ali se teria realizado o desembarque dos mais antigos colonizadores desta ilha, dando-se ao local o nome de «Desembarcadouro», que a tradição conservou e os cronistas arquivaram. Recorda a descoberta, o primeiro desembarque e o começo do povoamento, como acima ficou dito, que são outros tantos títulos a aconselhar e a impor o dever de uma significativa comemoração há muito sugerida e advogada, mas a que tem faltado uma feliz oportunidade para a sua imperiosa realização.

Uma singela coluna, encimada por um qualquer emblema ou troféu patriótico e assentada sobre um modesto plinto a erguer-se do seio da rocha viva seria já um pequeno mas expressivo monumento a perpetuar a memoria desses acontecimentos e porventura a relembrá-los a tantos e tantos que certamente os desconhecem.

Existem no Funchal três edifícios, que devem ser considerados por todos os madeirenses como verdadeiros «padrões memoraveis», e olhados como mais profundo respeito e acrisolado culto: A capela de Santa Catarina, a igreja de Santa Clara e a Quinta das Cruzes.

Capela de Santa Catarina

– Esta pequena e modesta ermida construída por D. Constança de Almeida, mulher de João Gonçalves Zargo, foi o primeiro templo que se levantou nesta ilha e junto dela teve o primeiro capitão-donatario a sua primitiva moradia, e de ali dirigiu os rudes e porfiosos trabalhos da incipiente colonização madeirense, que rapidamente se desenvolveu e em breve se criaram as primeiras vilas nas sedes das três capitanias, sendo a do Funchal a que adquiriu maior importância.

Santa Clara

Para sua ultima jazida e dos seus sucessores no Governo da donataria, fêz João Gonçalves Zargo edificar a capela de Nossa Senhora da Conceição, que ficou conhecida pelo nome de Conceição de Cima e que, ao ser fundado o convento anexo, passou a ter a invocação de Santa Clara, que ainda actualmente conserva. Ampliada e depois inteiramente reconstruída na segunda metade do século XVII, nada ali restará da primitiva edificação, mas encerra dentro dos seus muros as venerandas cinzas do seu fundador, que foi o primeiro capitão donatário do Funchal. Tem de ser considerada como o nosso mais precioso e reverenciado «padrão memorável», despertando a todos a mais respeitosa e sentida veneração.

Quinta das Cruzes

Nas mais proximas imediações desta igreja, tivera Gonçalves Zargo a sua ultima moradia e ali terminara a sua longa e afanosa existencia: é a solarenga habitação da Quinta das Cruzes, que se tornou também um «padrão» digno de igual e merecida veneração.

Capela dos Milagres

–Fora da cidade, existe ainda uma antiga e também veneranda capela, que, pelo local em que foi erguida e por diversos factos que a ela se acham intimamente ligados, constitui de igual modo um «memoravel padrão», merecedor do mais alto e considerado aprêço: a capela do Senhor dos Milagres da vila de Machico, da qual já por vezes nos temos ocupado.

Pessoas mencionadas neste artigo

João Gonçalves Zargo
Primeiro capitão donatário do Funchal

Anos mencionados neste artigo

1600
Capela de Nossa Senhora da Conceição foi inteiramente reconstruída