ArquiteturaHistória

Paço Episcopal

Quando o Papa Leão X, pela bula Pro excellenti preeminentia, de 14 de Junho de 1514, criou a diocese do Funchal, já o magnifico templo que hoje serve de Catedral estava quase concluído, tendo a sua construção começado no fim do século XV ou nos primeiros anos do seculo XVI. O mesmo não sucedera com o paço episcopal.

O primeiro prelado do Funchal que residiu entre nós foi D. Jorge de Lemos, que não sabemos que casas de moradia teria ocupado nesta cidade. D. Jerónimo Barreto foi o segundo bispo que veio a esta ilha e, segundo Frutuoso, teve sua habitação na rua Direita, «nuns aposentos muito ricos, com seus frescos jardins»(vol. I, pag. 365).

Chegando em 1586 á Madeira D. Luís Figueiredo de Lemos, sétimo prelado Funchalense e terceiro que viera pessoalmente administrar o seu bispado, foi estabelecer a sua moradia á rua das Pretas, numas casas particulares, que depois pertenceram ao alferes-mor desta ilha Tristão Gomes de Castro, onde se afirma que já os seus antecessores tinham tido a sua residência habitual. Foi este prelado, um dos mais ilustres desta diocese e que a governou de 1586 a 1608, que construiu o antigo paço dos bispos e também o primitivo edifício do seminário, que lhe ficava anexo. Deles restam alguns aposentos, a capela episcopal e uma espécie de claustro, construção característica das velhas residências conventuais, que hoje constituem dependências do actual palácio da rua do Bispo. A capela, que deixou de ser aplicada ao serviço do culto depois da construção do novo paço episcopal, era dedicada a S. Luís de Tolosa e ali foi sepultado o seu fundador, que faleceu nesta cidade a 26 de Novembro de 1608. O prelado desta diocese, D. Manuel Agostinho Barreto, em vista do estado de completo abandono em que se encontrava esta velha capela, fêz dali trasladar, em 1903, para a Sé Catedral, os restos mortais de D. Luís Figueiredo de Lemos, que jazem logo á entrada do templo, cobertos com a mesma lousa tumular de mármore branco que se via na primitiva sepultura.

O bispo D. Frei António Teles da Silva (1675-1682) ampliou o primitivo paço, e o prelado D. José de Sousa de Castelo Branco (1698-1721) incorporou nele o seminário, que lhe ficava anexo, pela mudança deste para a rua do Mosteiro Novo. O terramoto que se sentiu na Madeira na noite de 31 de Março para 1 de Abril de 1748 causou consideráveis estragos por toda a ilha, em muitos edifícios públicos e particulares, ficando também bastante arruinado o antigo palácio dos bispos e o seminário adjunto. Era então bispo do Funchal D. João do Nascimento, que dirigiu o Governo desta diocese de 1741 a 1753, revelando-se um prelado eminente que deixou assinalada a sua passagem nesta ilha por varias obras notáveis, tanto no desempenho das suas funções episcopais como no exercício interino durante alguns anos do lugar de governador e capitão-general deste arquipélago.

A ele se deve a construção do paço episcopal, onde hoje (1921) se encontra instalado o liceu. Tendo que abandonar a antiga residência dos bispos, pelo estado de ruína em que a deixara o terramoto, empreendeu sem demora a construção dum novo palácio, que projectou levantar nas imediações da Sé Catedral. As insuperáveis dificuldades que surgiram na aquisição dum novo local, obrigaram-no a aproveitar o do arruinado paço, que foi inteiramente demolido, com excepção da parte que ainda hoje se conserva de pé. Ali fêz erguer, desde os fundamentos, o novo paço episcopal, que apesar de ser uma construção pesada e despida de quaisquer primores arquitecturais, é, no entanto, para esta pequena cidade e para a época da sua construção, um edifício de relativa importancia, que em nada desonrava a hierarquia dos seus moradores.

O novo paço foi construído no período decorrido de 1748 a 1751. O seu fundador gastou nele cerca de dez contos de réis, contribuindo também o erário publico com quantia aproximadamente igual, tendo sido o custo total da obra de vinte contos de réis, importância esta que dispendida há 170 anos representa hoje uma soma avultada. (1921)

D. João do Nascimento para levar esta obra a seu termo, teve que lutar com gravíssimas dificuldades, que a sua inquebrantável tenacidade soube dominar e vencer. Pouco tempo gozou da sua obra, pois veio a morrer a 26 de Novembro de 1753 e jaz sepultado na Sé Catedral desta cidade. Tendo falecido o prelado D. Manuel Agostinho Barreto em 1911, passou o Paço Episcopal á posse da Fazenda Nacional e ali se instalou o liceu desta cidade, no mês de Janeiro de 1914. Quando em 1915 o actual prelado desta diocese veio assumir a direcção do bispado, encontrou preparada uma casa destinada a residência episcopal, que os católicos alugaram e mobilaram, e dela fizeram entrega ao chefe da igreja funchalense. Essa casa fica situada na rua dos Netos, fazendo esquina com a rua dos Ferreiros, ao lado direito de quem sobe esta rua. Pouco tempo permaneceu ali a residência do prelado diocesano, pois que, pela aquisição, por doação e herança, duma excelente casa de habitação no largo do Ribeiro Real, ficou esta definitivamente transformada em Paço Episcopal e ali reside actualmente o prelado e nas dependências do prédio se acham instaladas as repartições eclesiásticas. O destino a dar ao antigo Paço Episcopal ficou regulado pelos decretos de 5 de Julho e 6 de Agosto de 1913, de 9 de Março e 24 de Agosto de 1922.

Pessoas mencionadas neste artigo

D. Frei António Teles da Silva
Bispo do Funchal
D. Jerónimo Barreto
Segundo bispo do Funchal
D. Jorge de Lemos
Primeiro prelado do Funchal
D. José de Sousa de Castelo Branco
Prelado
D. João do Nascimento
Bispo do Funchal responsável pela conclusão da obra
D. Luís Figueiredo de Lemos
Sétimo prelado Funchalense
D. Manuel Agostinho Barreto
Prelado da diocese prelado falecido em 1911
Leão X
Papa

Anos mencionados neste artigo

1514
Criação da diocese do Funchal
1586
Chegada de D. Luís Figueiredo de Lemos à Madeira
1608
Falecimento de D. Luís Figueiredo de Lemos
1748
Terramoto na Madeira
1751
Conclusão da construção do novo paço episcopal
1753
Morte de D. João do Nascimento
1911
Falecimento do prelado D. Manuel Agostinho Barreto
1913
Decretos regulando o destino do antigo Paço Episcopal
1914
Instalação do liceu nesta cidade
1915
Assunção da direcção do bispado pelo prelado atual
1922
Decretos regulando o destino do antigo Paço Episcopal
1675-1682
Episcopado de D. Frei António Teles da Silva
1698-1721
Episcopado de D. José de Sousa de Castelo Branco