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Nossa Senhora do Calhau (Igreja de)

Foi conhecida esta igreja por várias denominações. Chamava-se-lhe Conceição de Baixo, para a distinguir da capela que Zarco edificara no local onde depois se levantou o convento de Santa Clara, e que era conhecida pelo nome de Conceição de Cima; também se lhe chamou Santa Maria Maior, em contraposição á pequena igreja de Conceição de Cima, que era de mais acanhadas dimensões; e teve finalmente o nome de Nossa Senhora do Calhau, que foi o que mais perdurou, por estar situada não longe da praia e num lugar a que comummente chamavam o calhau. E a tal propósito diz o Dr. G. Frutuoso: «Feita pousada neste logar (Santa Catarina), em que agasalhou sua mulher e filhos, entendeo o capitam Zargo em fazer huma igreja que fosse princípio e fundamento da villa do Funchal; e por estar segura e bem assentada, a mandou ordenar á beira do mar no cabo do valle do Funchal, ao longo da primeira ribeira deste prado, onde fazia o mar continuo á corrente da ribeira huma abra de muitos calhaos e seixos miudos, lavados da continuação das ondas delle, que nella batiam; e por esta razão houve nome esta primeira igreja do Funchal vulgarmente Nossa Senhora do Calhao, sendo seu orago a Natividade da Virgem ...»

A sua construção começou por 1438, quando já então se havia constituído um importante núcleo de população para além da margem esquerda da ribeira, que depois teve o nome de João Gomes. Uma grande aluvião que assolou a cidade no ano de 1611, destruiu em boa parte a igreja e o hospital que lhe ficava anexo, sendo então projectada a construção dum novo templo em local mais abrigado e seguro. Parece que esta edificação se não fez desde logo, pois diz uma nota das Saudades que a igreja foi reconstruída entre os anos de 1664 e 1688.

Outra enchente ocorrida em 1707, causou varias danificações na nova igreja e destruiu uma parte considerável do adro, havendo-se então realizado obras importantes na muralha que punha o templo ao abrigo da corrente impetuosa da ribeira. Isto não obstou a que a grande cheia de 1803 fizesse abater a igreja, deixando-lhe apenas de pé uma parte da capela-mor. A provisão de 10 de Março de 1805 determinou que se conservassem cuidadosamente estas ruínas no mesmo estado em que as deixara a aluvião, como lembrança, para os vindouros, do acontecimento que mais funesto fôra para os habitantes desta ilha. Não aconteceu, porém, assim, porque trinta e dois anos depois, isto é no mês de Dezembro de 1835, mandou a Câmara do Funchal demolir a parte que restava ainda da velha e histórica igreja, para ali se edificar um mercado de frutas e hortaliças, que teve o nome de Mercado União e cuja construção se realizou no ano de 1835.

Não é exacta a afirmativa do Dr. Gaspar Frutuoso quando diz que a igreja do Calhau foi a primeira edificada no Funchal. Segundo o anotador das Saudades, foi a capela de São Sebastião a primeira que aqui se levantou, afirmando outros que o direito de prioridade pertence á capela de Santa Catarina (V. este nome), construída de madeira junto à moradia de João Gonçalves Zargo, compartilhando nós desta opinião, por julgarmos ser a que mais se aproxima da verdade histórica.

A aluvião de 1803 arrastando para o mar a igreja de N. S. do Calhau, destruiu conjuntamente o arquivo paroquial, que era importante e continha documentos de valor.

A sede da paróquia passou em fins do ano de 1803 para a igreja de Santiago, que era propriedade da Câmara Municipal. Vid. Santiago (Igreja de).

Convém aqui advertir que a igreja de Nossa Senhora do Calhau ficava situada na margem esquerda da ribeira de João Gomes, entre as embocaduras das actuais rua de Santa Maria e rua Nova de Santa Maria ou de Latino Coelho. No local onde se erguia a igreja foi construído, como já fica referido, um mercado de frutas e hortaliças, que há poucos anos se demoliu para o alargamento da rua que margina a mesma ribeira. (V. Mercados).

Também notaremos que o antigo hospital, ou uma das suas dependências, ficava contíguo a esta igreja, como claramente se demonstra com o que se acha exarado num livro de provimentos do respectivo arquivo paroquial, único que escapou da aluvião de 1803, lendo-se ali que no recinto da igreja, com grave perturbação dos fiéis, se ouviam os gritos dos doentes, sobretudo por ocasião das operações ou dos curativos mais dolorosos.

Anos mencionados neste artigo

1438
Construção da igreja Nossa Senhora do Calhau começou.
1611
Grande aluvião que destruiu em boa parte a igreja e o hospital que lhe ficava anexo.
1707
Outra enchente causou danificações na nova igreja e destruiu uma parte considerável do adro.
1803
Grande cheia que fez abater a igreja, deixando-lhe apenas de pé uma parte da capela-mor.
1805
Provisão determinou que se conservassem cuidadosamente as ruínas da igreja como lembrança do acontecimento.
1835
Demolição da parte restante da igreja para a construção de um mercado de frutas e hortaliças.
1664-1688
Reconstrução da igreja.

Localizações mencionadas neste artigo

Funchal
Importante núcleo de população para além da margem esquerda da ribeira, que depois teve o nome de João Gomes.