Noronha (Adolfo César de)
Nasceu no Funchal a 9 de Setembro de 1873, é filho de Augusto de Nóbrega Noronha e de D. Adelaide da Silva de Noronha e frequentou o liceu do Funchal e algumas cadeiras das antigas Escola Politécnica de Lisboa e Academia Politécnica do Porto. A 11 de Dezembro de 1914, foi nomeado bibliotecário da Biblioteca Municipal do Funchal.
Fez observações meteorológicas na ilha do Porto Santo de 1900 a 1902, tendo também realizado ali por essa época e posteriormente diversos estudos de historia natural.
Em 1904, remeteu ao dr. Openheim, paleontólogo alemão, vários corais fosseis do arquipélago, e pouco depois mandava ao Dr. Bohm as conchas fosseis das Selvagens, tendo sido devidamente estudadas estas colecções, com grande proveito para a ciência. O paleontólo sérvio Joksimowitsch foi também contemplado com uma bela colecção de fósseis colhidos no Porto Santo, tendo num excelente estudo que publicou acerca dela, mencionado 106 formas distintas, entre espécies e variedades.
Adolfo de Noronha tem-se consagrado também ao estudo da ictiologia, da ornitologia, da malacologia e da carcinologia do arquipélago, devendo-se-lhe ainda varias observações sobre a geologia do Porto Santo e da Selvagem Grande, que foram aproveitadas pelo Dr. Gagel nos seus trabalhos sôbre aquelas ilhas. A interessante Merlia Normani, a que já nos referimos a pág. 413 do vol. I deste Elucidário, foi colhida por ele nos mares do Porto Santo, provindo também dali muitos dos briozoarios que enviou ao Dr. Norman e foram por este assinalados num trabalho publicado no Jornal da Sociedade Lineana.
Escreveu um folheto que tem por título Carta aberta ao Ex.m° Sr. Governador Civil do Funchal (Lisboa, 1911) e é autor dos interessantes artigos intitulados Braguinha, Canais de lava, Carcinologia, Charamba e Conchas, publicados no 1.° vol. deste Elucidário, bem como da grande maioria das noticias que se encontram até pág. 341 do mesmo volume, sobre os peixes e as aves do arquipélago.
Relembram o nome de Adolfo de Noronha as espécies e variedades seguintes: Schizoporella Noronhai; briozoário abissal, Pecten Noronhai e Spondylus Noronhai, conchas fósseis, e Echium candicans var. Noronhae, borraginacea do interior da Madeira. A Merlia Normani, quando se supunha ser um coral, teve o nome de Noronha scalariformis.
Adolfo de Noronha foi nomeado director da Biblioteca Municipal do Funchal no ano de 1928 e sem demora começou a agitar a ideia da criação de um «Museu de Ciências Naturais», de que foi o mais extrénuo e perseverante paladino, tanto na imprensa como junto dos que para essa realização poderiam contribuir com o seu prestigio e com a sua influencia. A essa ideia teve sempre associada a da aquisição de um edifício apropriado para a instalação da Biblioteca Municipal e do Museu anexo de ciências, com secções de arte, arqueologia, etnologia, etc. Autorizado pela Câmara Municipal, permaneceu alguns meses em Lisboa a tratar da emissão de um selo postal destinado a custear a despesa com aquelas projectadas instalações, o que veio a conseguir-se inteiramente, estando aquela repartição pública instalada em um belo e amplo edifício conhecido pelo nome de Palácio de São Pedro, que era a antiga casa solarenga dos condes de Carvalhal. É incontestável que a Adolfo de Noronha se deve principalmente a execução desse importante melhoramento.
Ao deixar o exercício das suas funções publicas, foi-lhe prestada pela Câmara uma justa homenagem, a que se associaram diversas entidades oficiais, com o descerramento de uma inscrição lapidar instalada em uma das salas do Museu.
É de inteira justiça reproduzir as palavras, que deixámos exaradas nas colunas da imprensa diária do Funchal, por ocasião de ser tributada essa tão merecida prova de consideração e alto apreço.
O Sr. Adolfo César de Noronha, apesar dos incontestáveis méritos que tão notavelmente o distinguem, é ainda um desconhecido para muitos madeirenses, em virtude da recatada modéstia em que tem procurado ocultar-se e que uma pertinaz doença tornou mais acentuada nos últimos anos. Se assim não fora, teria produzido uma importante e apreciada obra, especialmente acerca de vários ramos de zoologia madeirense, para o que lhe sobram o mais aprofundado conhecimento do assunto, um entranhado amor ao estudo e ás pesquisas de carácter cientifico e uma fácil e elegante dicção na exposição das matérias que tivesse de versar.
O Sr. Adolfo de Noronha publicou diversos opúsculos e algumas dezenas de artigos, que absolutamente primam pela clareza com que é apresentado o assunto e pela profundeza de conhecimentos que revelam, manifestando-se nestes ao mesmo tempo uma notável aptidão para a mais acessível divulgação cientifica.
Os que proximamente conhecem os estudos a que o Sr. Noronha se dedicou e têm apreciado os seus valiosos escritos são unânimes em afirmar a requintada probidade cientifica que caracteriza todos os seus trabalhos, em que sempre põe o mais apurado escrúpulo e a mais conscienciosa aplicação.
Não é para admirar que tivéssemos ouvido a um ilustre professor universitário e um dos nossos mais abalizados homens de ciência, com especial referência ao Sr. Adolfo C. de Noronha, estas bem merecidas palavras: «possui todos os requisitos para ocupar com distinção uma cátedra em qualquer universidade do país..
É bastante para sentir que imperiosas circunstancias da vida não tivessem permitido que o distinto homem de ciência pudesse estadear em fecundos e proveitosos trabalhos toda a vastidão do seu saber e os primorosos dotes da sua privilegiada inteligência.
E a sobredourar esses inapreciaveis dotes de espírito e de aprofundada cultura cientifica destacam-se superiormente as mais lídimas qualidades de carácter, tão sobejamente conhecidas no meio social madeirense.