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Muralhas das Ribeiras

De há muito que existem muralhas nas margens dalgumas ribeiras com o fim de obstar a que as aguas corroiam as terras ou provoquem inundações nos povoados. Em 28 de Junho de 1613, protestou a Câmara Municipal do Funchal contra vários actos do Governador D. Manuel Pereira Coutinho, e em especial contra a forma como ele a contrariava na direcção das obras das ribeiras «com manifesta violação das provisões reais», e os alvarás de 4 de Janeiro de 1660, 9 de Agosto de 1747 e 18 de Julho de 1748 ordenaram respectivamente a construção de muros de abrigo nas ribeiras da Ribeira Brava, Santa Cruz e Machico.

Estes muros foram construídos, mas não com a necessária segurança, segundo parece, pois que em 24 de Julho de 1756 oficiava o Provedor da Fazenda a Diogo de Mendonça Corte Real acerca da necessidade de se proceder à reedificação dos mesmos muros.

Em 30 de Maio de 1772, foi chamado à Câmara Municipal do Funchal o capitão de engenheiros Domingos Rodrigues Martins afim de organizar o orçamento das obras de reedificação das muralhas das ribeiras, sem o qual não podia a mesma Câmara requerer ao Monarca a execução desse melhoramento, e a Relação dos Estragos causados pela Tempestade que houve na noite do dia 9 de Outubro de 1803 na ilha da Madeira, publicada a pág. 723 das Saudades da Terra, alude à destruição pelas aguas de «altas e fortes muralhas, feitas de pedra e cal pela margem oriental e ocidental das três ribeiras, para segurança da cidade», o que mostra que alguma coisa se fez no referido ano de 1772, ou pouco depois, para garantir o Funchal contra o perigo das inundações.

As actuais muralhas das ribeiras da cidade foram iniciadas ou muito melhoradas em 1804, sob a direcção do brigadeiro Reinaldo Oudinot, o qual propôs também a execução de varias obras urgentes nas ribeiras de Santa Cruz, Machico, Porto da Cruz, Calheta, Madalena, Ponta do Sol, Ribeira Brava e Tábua, parte das quais foram levadas a efeito. Em 9 de Dezembro de 1804, comunicava o referido brigadeiro ao Visconde de Anadia «que as chuvas tinham produzido grandes cheias nas ribeiras, pelas quais se mostrara a eficácia e a solidez das obras já construídas tanto no Funchal, como em Machico, Santa Cruz, Ponta do Sol e nas freguesias da Tábua e Madalena.»

Em 1806, foram demolidas varias casas nas margens das ribeiras de João Gomes e Santa Luzia, para a edificação das novas muralhas, e vê-se duma informação prestada em 28 de Dezembro de 1814 a António de Araújo e Azevedo que nessa data ainda faltava realizar algumas obras nessas ribeiras e na de S. João para a cidade ficar completamente defendida das inundações.

Uma parte da muralha da ribeira de Machico foi levantada depois da aluvião de 1842, e em 1847 e 1848 construíram-se a muralha da ribeira de Santa Luzia, que fica junto da praça do peixe, e as muralhas da ribeira de João Gomes, que ficam junto à foz e ao Campo da Barca, ignorando nós, porém, se tais obras foram executadas então pela primeira vez. Em 1847, fizeram-se algumas arrumações de pedra na Ribeira Brava, e obras mais sólidas se efectuaram ai, recentemente, com o fim de proteger a vila contra o perigo das inundações.

Anos mencionados neste artigo

1613
Protesto da Câmara Municipal do Funchal
1660
Alvará para construção de muros de abrigo nas ribeiras da Ribeira Brava, Santa Cruz e Machico
1756
Ofício do Provedor da Fazenda a Diogo de Mendonça Corte Real acerca da necessidade de reedificação dos muros
1772
Início ou melhoria das muralhas das ribeiras da cidade
1803
Destruição pelas águas de altas e fortes muralhas feitas de pedra e cal pela margem oriental e ocidental das três ribeiras
1804
Início ou melhoria das muralhas das ribeiras da cidade
1806
Demolição de casas nas margens das ribeiras de João Gomes e Santa Luzia
1842
Levantamento da parte da muralha da ribeira de Machico após a aluvião
1847
Construção da muralha da ribeira de Santa Luzia e das muralhas da ribeira de João Gomes
1848
Construção das muralhas da ribeira de João Gomes