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Mouros

Já no artigo Escravos nos referimos aos mouros cativos empregados no arroteamento das terras da Madeira. Como a designação geral de escravos compreendia os negros, mulatos, canários e mouros, é hoje difícil determinar com precisão os factos ou circunstancias que digam respeito a qualquer daquelas castas em especial. No entretanto, sabemos que foi grande o numero de mouros existentes neste arquipélago nos primitivos tempos da colonização, tendo-se formado núcleos importantes dessa população, nomeadamente no Funchal, Ponta do Sol, Curral das Freiras e Machico. Na primeira destas localidades houve uma mouraria ou bairro de mouros, dando o publico ainda hoje a uma das ruas do Funchal o nome de Mouraria.

O tenente-coronel Alberto Artur Sarmento publicou no n.° 1983 do antigo Heraldo da Madeira um interessante artigo acerca dos mouros na Madeira, do qual transcrevemos os seguintes períodos:

«O mouro era mais trabalhador do que o escravo da Guiné e da Mina, por isso a preferência dos senhores das terras em importal-o para as suas fazendas de cultivo. Este comercio escandaloso em que se entendiam de cà os donatarios, e das praças d'Africa os governadores, que ordenavam razias, originou o clamor do chefe dos mouros que lamenta em carta a D. Manoel, o que fazia Azambuja, apanhando a torto e a direito e de todas as classes, para enviar de contracto aos capitães da Madeira. É o que se depara nos «Documentos arabicos copiados dos originaes da Torre do Tombo,1790.»

«Os mouros formaram núcleos importantes, reunindo-se em grupo ou bairro à parte, como o attesta a Mouraria, uma das ruas mais antigas do Funchal, e tiveram grande commercio nas villas, especialmente em Ponta do Sol e Santa Cruz. N'esta ultima mostrava-se ainda ha annos um retábulo existente na igreja parochial, onde figuravam escravos mouros usando um pequeno turbante afunilado, com uma ponta cahida, de que derivaram a carapuça do villão e a toalhinha pendente da cabeça, antigos trajes característicos da camponeza da Madeira.

«Dos mouros, a dolência dos cantares, mas a dança repisada é movimento de preto. Dos mouros as lengas-lengas serranas, os populares: lengi lengi o nevoeiro corriqueiro, a formiga que o seu pé prende. Entre as brumas, princezas encantadas, as historias de palàcios e riquezas enthesouradas, ladrões e varas de condão, são influencias e assumptos do povo, migrados nesta corrente de longe subordinada.

«Dos mouros ainda o cuscuz, essa massa granulada de farinha de trigo, tão apreciada pelas classes pobres e que só a comem nas ocasiões solemnes, com um naco de carne de porco, pelos baptisados e casamentos, não faltando o ramo de segurelha e coentro que encima o prato e o aromatisa.

«Vae-te p'ra Argel é uma praga popular que relembra o saque e captiveiro em terras da moirama. Um episódio do século XV é tratado por mão de artista, num dos capítulos da novella histórica . «A Filha de Tristam das Damas», com um colorido flagrante dos tempos àureos do casquilho donatario de Machico.

«Essa raça inteligente e aventureira deu-nos um typo na historia, personalisado no mouro Barque, do Porto Santo, que deitou por terra a falsa doutrina do propheta Fernão Bravo, e como na lenda «o rei vai nú,, todos começaram a ver d'ahi em diante o embuste, e as justiças tomaram conta do embaidor que com artifícios illudia um povo crédulo.»

Mousinho de Albuquerque. Vid. Albuquerque (Major Joaquim Mousinho de).

Pessoas mencionadas neste artigo

Alberto Artur Sarmento
Tenente-coronel
Azambuja
Pessoa não identificada
D. Manoel
Rei
Fernão Bravo
Profeta
Mousinho de Albuquerque
Pessoa não identificada

Anos mencionados neste artigo

1790
Documentos arabicos copiados dos originaes da Torre do Tombo