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Misericórdia de Machico

– É de fundação bastante antiga, mas ignora-se a época precisa da sua criação, conjecturando-se que date do primeiro quartel do século XVI. É tradição que uma senhora deixara aos pobres da vila de Machico um importante prédio e que este legado despertara a ideia da fundação da Misericórdia, tendo servido de núcleo aos bens que depois veio a possuir.

A aluvião arrastou para o mar em 1803 a capela da Misericórdia e casa anexa, e com elas o respectivo arquivo, escasseando-nos os elementos indispensáveis para traçar uma noticia histórica desta instituição. Podemos no entretanto, por alguns dados que nos fornecem os Anais do Município, dizer que o seu funcionamento era regulado pelo compromisso da Misericórdia de Lisboa. Parece que sempre deixou muito a desejar a sua administração e que não foram grandes os benefícios que dispensou aos pobres, sendo certo que chegou a ter, além do provedor e mesa rio, dois escrivães, dois arrecadadores, um gaveteiro, dois procuradores dos pobres e dois informadores. Este aparato burocrático, embora talvez de exercício gratuito, não obstou a que muitos foros e prédios se perdessem, sobretudo depois que os respectivos títulos foram destruídos pela enchente do principio do século passado.

Primitivamente não teve hospital, mas apenas capela que servia de sede à irmandade e da qual jà nos ocupamos com alguma largueza (vol. 1, pág. 332) e a ela nos referiremos novamente no artigo Capela de Cristo. O beneficiado da Colegiada de Machico, padre Inacio Barbosa da Silva, por escritura publica de 20 de Maio de 1748, legou à Confraria umas casas que possuía no sitio da Banda de Além, para nelas ser instalado um hospital e servir de edifício da Misericórdia, visto a mesma Confraria não ter uma construção destinada a esse fim. Nada podemos informar com respeito ao funcionamento do hospital, dizendo os citados Anais que aquelas casas passaram à posse da Confraria do Santíssimo Sacramento da freguesia do Caniço, por motivo que se desconhece. Em 1856, arrendou a Misericórdia um prédio para a instalação dum hospital, que desempenhou um importante papel na epidemia colerica e foi extinto por 1862.

Um dos mais zelosos provedores da Misericórdia de Machico foi o capitão Cristovão Esmeraldo, eleito para aquele cargo em 1810. Além dos bons serviços que prestou na administração da irmandade, muito concorreu para a reconstrução da capela, que a 9 de Outubro de 1803 fora destruída pela aluvião. Outro provedor que não menos assinalados serviços despensou a esta instituição, foi o vigário daquela vila, padre Manuel José da Paixão, que conseguiu extrair varias certidões de prédios e foros e fazer reverter à posse da Misericórdia alguns bens jà então considerados perdidos.

A irmandade foi extinta em 1835, e por alvará do governador civil de 13 de Junho do mesmo ano, se procedeu à nomeação duma comissão administrativa que ficou na gerência desta Misericórdia.

Possui ainda um prédio no sitio da Ribeira Seca, e tinha muitos foros impostos em diversos prédios nos serrados do Isidoro, do Travesso e ainda outros sítios.

No Boletim do Trabalho Industrial acima citado, lemos que a receita desta Misericórdia no ano de 1909-1910 foi de 151$40, que se juntou a um saldo de 79$51, tendo as despesas do mesmo ano importado nas quantias de 37$75 para medico e remédios e 71$21 para dietas. Em 1913 a receita foi de 842$76, sendo 81$19 de saldo, 181$20 de rendas e 508$37 de renda dum pinhal. As despesas foram de 271$26, restando um saldo para 1914 de 571$50. Os doentes são socorridos em suas próprias casas, porque a Misericórdia não tem instalação ao presente para hospital, e quando a tivesse, não dispunha de recursos para a sua manutenção.

Pessoas mencionadas neste artigo

Cristovão Esmeraldo
Capitão e provedor da Misericórdia de Machico
Inacio Barbosa da Silva
Beneficiado da Colegiada de Machico
Manuel José da Paixão
Vigário da vila de Machico

Anos mencionados neste artigo

1748
Escritura pública de legado à Confraria
1803
Destruição da capela pela aluvião