História

Andrade (Francisco Justino Gonçalves de)

Entre os madeirenses que notavelmente se distinguiram em países estrangeiros e sobremaneira honraram o seu torrão natal, destaca-se o Dr. Francisco Justino Gonçalves de Andrade, que nasceu na freguesia do Campanário a 18 de Fevereiro de 1821 e morreu na cidade de S. Paulo a 25 de Julho de 1902, sendo filho do tenente Francisco Joaquim Gonçalves de Andrade e de D. Caetana Maria de Macedo. Com 18 anos de idade e depois de ter cursado o Liceu do Funchal, embarcou para o Brasil a tentar fortuna, mas reconhecendo que a sua vocação não era a vida comercial a que se dedicara, matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de S. Paulo, conformando-se deste modo com os conselhos que recebera de seu tio D. Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, bispo daquela diocese. O seu curso universitário foi a revelação dum extraordinário talento e nele alcançou os mais brilhantes triunfos académicos, tendo em 1850 concluído a sua formatura em ciências jurídicas e sociais. No ano seguinte defendeu teses e recebeu o doutoramento, tendo pouco depois, num concurso publico que ficou célebre e em que foi o primeiro classificado, sido nomeado lente substituto e mais tarde lente catedrático da Universidade em que fora um dos mais estudiosos e distintos alunos. Foi como lente da cadeira de Direito Civil que verdadeiramente se notabilizou, sendo considerado o primeiro civilista brasileiro do seu tempo. Como sucedeu aos distintos madeirenses Dr. Patrício Moniz, Ferreira de Freitas e ainda outros, não deixou uma obra que correspondesse aos seus grandes méritos e assinalasse o seu profundo saber e vasta erudição na difícil e escabrosa especialidade a que consagrou a vida inteira. No entretanto, as suas prelecções como professor, as consultas que de todas as partes do Brasil lhe eram dirigidas, o alto conceito que dele formavam os mais abalizados jurisconsultos brasileiros e ainda o facto de ter sido nomeado membro da comissão encarregada de dar parecer acerca do projecto do Código Civil elaborado pelo ilustre jurisconsulto Dr. Felicio dos Santos, provam sobejamente que o Dr. Justino de Andrade possuía os requisitos indispensáveis de talento e de saber para ter deixado uma obra perdurável e em que de uma maneira mais eloquente afirmasse os dotes notáveis do seu espírito privilegiado e da sua vastíssima erudição. Poucas vezes tratou de questões forenses e quasi se limitou a responder ás consultas que frequentemente lhe dirigiam, sendo as suas opiniões acatadas como as duma grande autoridade nas diversas questões do direito civil brasileiro. Todo o tempo consagrava ao estudo, levando uma vida de retiro e de silêncio, completamente arredado da política e de tudo o que pudesse perturbar essa ânsia de saber que nele parecia revestir a forma duma preocupação doentia. O Dr. Justino de Andrade não tinha predilecções políticas ou partidárias, mas era amigo pessoal e dedicado do imperador D. Pedro II, e isso bastou para ser demitido de director da Faculdade de Direito, sendo-lhe depois imposta a jubilação de professor, em virtude dum conflito que se levantou no seio da Academia. Terminaremos este ligeiro escorço biográfico, dizendo que, se o Dr. Justino de Andrade se impunha pela vastidão do seu saber, brilhante talento e raras faculdades de trabalho, não era menos considerado pela inquebrantável austeridade de caracter e notável rigidez de princípios, que o tornavam uma grande figura moral, profundamente estimada e admirada em todo o império brasileiro.

Pessoas mencionadas neste artigo

D. Caetana Maria de Macedo
Mãe
D. Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade
Bispo
Dr. Felicio dos Santos
Ilustre jurisconsulto
Dr. Patrício Moniz
Distinto madeirense
Ferreira de Freitas
Distinto madeirense
Francisco Joaquim Gonçalves de Andrade
Tenente