História

Madeirenses no Brasil

Já no artigo Emigração (1-391), nos referimos ao avultado numero de emigrantes que nos séculos XVI e XVII saíram desta ilha para o Brasil, sendo ocasião de recordar o que em muitos lugares se lê acerca da plantação da cana sacarina naquele país, ao afirmar-se que foram madeirenses os que para ali levaram as primeiras plantas e também primeiramente iniciaram a cultura desse rico vegetal, que depois tão largamente se generalizou e veio a constituir um dos grandes elementos de prosperidade da nascente colónia.

Também se afirma que foi o Governador do Brasil, Martim Afonso de Sousa, que solicitou a ida desses madeirenses e promoveu, por meio deles, o começo da plantação da cana sacarina.

As crises que afligiram a Madeira em diversas epocas determinaram a ida de grandes levas de emigrantes, sendo interessante estas informações fornecidas por uma das anotações das «Saudades da Terra»: «Em 1676, a decadencia tinha neste arquipélago chegado a ponto que a emigração para o Brasil, até então mero expediente ou especulação de particulares, passou a ser promovida como providencia governativa: nesse ano foi expedida uma carta regia e outra em 1747, ambas registadas no arquivo da Câmara do Funchal, determinando a primeira que, a expensas do estado, fossem transportadas para o Brasil trezentos até quatrocentos casais, e a segunda, recomendando ao capitão-general que dispensasse ajuda e favor a essa emigração.»

É sabido que, particularmente no período das guerras da Restauração, em que naquele país tão brilhante e heroicamente se notabilizou a acção do madeirense João Fernandes Vieira (vid. a pág. 18 do vol. II), se deu uma grande emigração de madeirenses para o Brasil, favorecida pelo ilustre restaurador de Pernambuco, e que um numero avultado de filhos da nossa terra altamente se distinguiram ao lado do seu ilustre conterraneo, encontrando-se os nomes de muitos deles mencionados nas crónicas da epoca e em diversos artigos e nobiliários e de alguns dos quais deixaremos registados os seus actos de bravura no artigo Varões Ilustres.

Não somente nesse período de pugnas militares, mas ainda posteriormente e em varios ramos da actividade humana, foram muitos os madeirenses que sobremaneira honraram o torrão natal pelo seu amor ao trabalho, pela sua inteligência e pela sua iniciativa, chegando alguns a criar foros de cidadãos beneméritos e merecendo as mais elogiosas referencias das pessoas mais qualificadas daquele país.

Com respeito ao século XIX, desejamos aqui fazer rapida menção dos madeirenses D. Mateus de Abreu Pereira, e D. Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, bispos de São Paulo, doutores Francisco Justino Gonçalves de Andrade e João Jacinto Gonçalves de Andrade, lentes da Universidade da mesma cidade, dr. Patricio Moniz, grande orador sagrado, Caetano Alberto Soares, distinto Jurisconsulto, general Joaquim de Oliveira Alvares, padre João Antonio de Lessa, deputado, João da Silva Caldeira, professor de química, Francisco João Rossio, engenheiro militar, além de outros, dos quais deixámos algumas notas biográficas dispersas nas páginas desta obra.

É sabido que uma das mais notaveis obras realizadas pelos portugueses em terras brasileiras foi a criação do «Gabinete de Leitura do Rio de Janeiro», que fundou uma rica e copiosa biblioteca, cujo catálogo, em grande parte impresso, se compõe de alguns volumes. Foi um dos mais activos e prestimosos iniciadores dessa fundação o madeirense Francisco Eduardo Alves Viana, negociante na cidade do Rio de Janeiro.

Pessoas mencionadas neste artigo

Caetano Alberto Soares
Jurisconsulto
D. Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade
Bispo de São Paulo
D. Mateus de Abreu Pereira
Bispo de São Paulo
Francisco Eduardo Alves Viana
Negociante na cidade do Rio de Janeiro
Francisco João Rossio
Engenheiro militar
Francisco Justino Gonçalves de Andrade
Doutor e lente da Universidade de São Paulo
Joaquim de Oliveira Alvares
General
João Antonio de Lessa
Padre e deputado
João Fernandes Vieira
Restaurador de Pernambuco
João Jacinto Gonçalves de Andrade
Doutor e lente da Universidade de São Paulo
João da Silva Caldeira
Professor de química
Martim Afonso de Sousa
Governador do Brasil
Patricio Moniz
Orador sagrado

Anos mencionados neste artigo

1676
Decadencia na Madeira
1747
Carta régia para emigração para o Brasil