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Madalena do Mar (Freguesia da)

Esta paróquia do litoral sudoeste da Madeira fica a Jusante da freguesia dos Canhas, sendo limitada a leste pelo sitio dos Anjos, da mesma freguesia, e a oeste pela paróquia do Arco da Calheta. Conjectura-se que o seu primitivo nome tivesse sido Madalesia ou Santa Maria Madalena, a que mais tarde se houvesse acrescentado a denominação de Mar, por ser banhada pelo oceano e mais ainda talvez para a distinguir do sitio e capela de Santa Maria Madalena, da freguesia do Porto do Moniz, quando ali começou a ser o centro duma conhecida e concorrida romagem. A hipótese não é inteiramente destituída de fundamento e outros exemplos ha que a justificam. O nome pelo qual é hoje geralmente conhecida, ainda nos documentos oficiais, é de Magdalena do Mar, embora o povo, nas suas tendências simplificadoras da linguagem, lhe chame também Madalena. A paróquia tirou sua origem dun)a fazenda povoada que ali houve desde os primeiros tempos da colonização, com uma capela, cujo orago seria Santa Maria Madalena, segundo se vê algures, ahrmando-se também que a primitiva ermida tinha a invocação de Santa Catarina. Acêrca desta origem, lê-se em vários antigos nobiliários o que sumariamente se encontra nas notas das Saudades, concebido nos seguintes termos: «... Henrique Allemão, personagem lendario dos primitivos tempos da colonização desta il ha da Madeira. Del le se dizia que era principe polaco, e que perdida em 1444 a batalha de Varna por Uladislau IV contra Amurato II fizera voto de peregrinar a terra e fóra armado cavalleiro de Santa Catharina do Monte Sinai. Vindo à ilha da Madeira, João Gonsalves Zargo lhe deu, no sitio depois chamado a Magdalena do Mar, largo terreno de sesmaria, por carta que foi confirmada pelo infante D. Heurique em 29 de Abril de 1457, e por D. Afonso V em 18 de Alaio do mesmo anno. Com effeito. Henrique Allemão ahi fundou grande fazenda povoada, com capela da invocação de Santa Maria Magdalena, da qual veiu o nome ao logar. Casou com Senhorinha Annes, e morreu desastradamente esmagado por uma quebrada que do Cabo Gyrão cahiu sobre o barco em que elle hia da cidade do Funchal para a Magdalena. Sua mulher casou depois com João Rodrigues de Freitas. Ainda agora ha, acima da villa da Ponta do Sol, a Fajã do Allemão, que o povo corruptamente denomina do limâo». Podemos, pois, considerar o polaco Henrique Alemão como o primitivo fundador desta povoação, sendo também êle quem malldou erigir a primeira capela que ali se levantou. Senhorinha Aues, viúva de Henrique Alemão, passou a segundas nupcias com João Rodrigues de Freitas fidalgo algarvio, tendo estes instituído um morgadio, que teve sua sede na referida capela e de que actwalmente são representantes os viscondes de Geraz do Lima. Um filho do instituidor, também por nome João Rodrigues de Freitas, declara no seu testamento, feito em 1520, que foi o fundador da capela de Santa Maria Madalena, a qual é portanto de construção anterior àquele ano. Devemos daqui inferir que Henrique Alemão edificou a ermida primitiva e que João Rodrigues de Freitas a reconstruiu mais tarde ou fundou de novo a capela de Santa Maria Madalena sendo então frequente darem-se como instituidores e fundadores de capelas e igrejas indivíduos que apenas as reedificavam ou nelas faziam obras uotáveis de reparação. Antes desta localidade ser paróquia autónoma, teve seus capelães privativos, sendo-lhes em 1538 concedido o direito de poderem administrar os sacramentos aos moradores do lugar e em 1539 o de construirem uma pia baplismal, a pedido do padroeiro da capela, que era então João Rodrigues, quejulgamos ser o seu fundador ou um seu próximo descendente. Esta freguesia foi desmembrada da da Ponta do Sol, sendo constituída paroquia independente pelo bispo D. Jerónimo Barreto a 1 de Fevereiro de 1582, sendo seu primeiro pároco o padre João Leandro Afonso. 0 alvará régio de 22 de Setembro de 1587 fixou ao pároco o vencimento anual de 20.000 réis, que foi acrescentado pelo alvará de 10 de Setembro do ano seguinte com meio moio de trigo e um quarto de vinho. Dois anos depois, por alvará de 15 de Novembro, passou aquele ordenado a ser de 16 000 reis em dinheiro

um moio de trigo e uma pipa de vinho, tendo um aumento de 3 000 réis anuais pelo alvará régio de g de Dezembro de 1611. Temos conhecimento de outro alvará, datado de 28 de Julho de 1649, que fixou o vencimento anual do pároco em 19.000 réis em dinheiro, um moio e meio de trigo e uma pipa e um quarto de vinho.

No texto de Gaspar Frutuoso, escrito em 1590, encontram-se as seguintes referencias a esta freguesia: «. . . Magdalena cousa tão singular e nobre pela ermida desta sancta que os moradores ali fizeram, onde se colhe muito proveito de assucares». Noutro logar das Saudades se lê: «Meya legoa da Villa da Ponta do Sol ao longo do mar, está a freguesia da Magdalena, de até trinta fogos. Tem um engenho que foi de hum Manuel Dias, e boa fazenda de boas terras de canas, e muita agoa fresca. Ha nesta freguesia huma ermida de Nossa Senhora dos Anjos, que, tirando ser pequena, he huma rica casa, com um retábulo pequeno, e fresco, e bem ornado, junto da qual está uma fresca fonte debaixo de huns seixos, entre huns canaviais de assucar de mui fermosas canas.»

(Vid. Anjos 1-71)

. Este sitio dos Anjos pertence hoje á freguesia dos Canhas e fez já parte da paróquia da Ponta do Sol, ignorando nós se ele já porventura teria pertencido à freguesia da Madalena, como afirma Gaspar Frutuoso.

Havia nesta freguesia a capela de Santa Quiteria, de que hoje apenas resta um montão de escombros. Foi mandada construir pelo padre João da Silva Alves.

É de notável feracidade o solo desta localidade, que logo nos primeiros tempos da colonização sofreu uma larga exploração agrícola. Cultivou-se a cana sacarina em larga escala, montando-se sem demora um engenho para o fabrico de açúcar e tornando-se este lugar um importante centro produtor daquele género. Ainda hoje são os seus terrenos muito férteis para as chamadas culturas ricas, sendo também notável a produção da banana destinada à exportação.

Pelo censo de 1920, é de 1093 o numero de habitantes desta freguesia, dispersos pelos sítios do Passo, Vargem, Lombo, Banda de Além, Palmeira, Torreão, Ribeira da Madalena, Moledos, Achada e Rua.

Tem uma escola oficial do sexo masculino, criada em 1882, e uma mixta, movel, que funciona desde o ano de 1919 (1921).

As levadas da Ribeira da Madalena, do Nateiro e a Levada Nova irrigam esta freguesia.

Era natural da paroquia da Madalena do Mar o médico-cirurgião António Policarpo dos Passos Sousa, que durante muitos anos exerceu o cargo de secretario da Câmara Municipal da Ponta do Sol. Segundo o testemunho dos seus condiscípulos e contemporâneos, era um homem de extraordinário talento, que uma morte prematura e outras circunstâncias especiais não permitiram manifestar-se com o brilho que muito seria para desejar. Cultivou com distinção a poesia, deixando várias composições que no tempo foram muito apreciadas.

Também era natural desta freguesia o padre António João de Lessa, que faleceu no Brasil onde se distinguiu.

(Vid. este nome)

No litoral desta freguesia, desemboca a ribeira da Madalena, que nas alturas em que atravessa a freguesia dos Canhas sofreu, na sua margem esquerda, um grande desmoronamento de terreno no ano de 1932, que causou enormes prejuízos e obstruiu em grande parte o leito da mesma ribeira. Essa ocorrência contribuiu em grande parte para que, no dia 30 de Dezembro de 1939, o caudal da ribeira, com as grandes invernias que então caíram tomasse as mais assustadoras proporções e arrastasse na sua passagem algumas dezenas de habitações, desse a morte a várias pessoas e causasse incalculáveis prejuízos, constituindo uma das maiores calamidades provocadas pelas inundações nesta ilha.

Pessoas mencionadas neste artigo

António João de Lessa
Padre
António Policarpo dos Passos Sousa
Médico-cirurgião
Henrique Alemão
Primitivo fundador da povoação
João Rodrigues de Freitas
Instituidor do morgadio, fundador da capela de Santa Maria Madalena
Senhorinha Aues
Viúva de Henrique Alemão, passou a segundas nupcias com João Rodrigues de Freitas fidalgo algarvio

Anos mencionados neste artigo

1444
Batalha de Varna por Uladislau IV contra Amurato II
1457
Carta confirmada pelo infante D. Heurique
1520
Testamento de João Rodrigues de Freitas
1538
Concedido o direito de poderem administrar os sacramentos aos moradores do lugar
1539
Construção de uma pia baplismal
1582
Constituição da paroquia independente pelo bispo D. Jerónimo Barreto
1587
Alvará régio fixou ao pároco o vencimento anual de 20.000 réis
1589
Acrescentado meio moio de trigo e um quarto de vinho ao vencimento do pároco
1590
Escrito de Gaspar Frutuoso
1591
Ordenado passou a ser de 16 000 reis em dinheiro
1611
Alvará régio de aumento de 3.000 réis anuais
1649
Alvará fixando o vencimento anual do pároco em 19.000 réis em dinheiro, um moio e meio de trigo e uma pipa e um quarto de vinho
1882
Criação da escola oficial do sexo masculino
1919
Funcionamento da escola mista
1920
Censo com 1093 habitantes
1932
Desmoronamento de terreno na margem esquerda da ribeira da Madalena
1939
Calamidade provocada pelas inundações

Localizações mencionadas neste artigo

Canhas
Freguesia dos Canhas
Madeira
Ilha da Madeira
Ponta do Sol
Villa da Ponta do Sol