EconomiaHistória

Lotarias

A Santa Casa da Misericórdia desta cidade teve mais duma vez a faculdade de estabelecer uma lotaria destinada a auxiliar as despesas com a sustentação desta casa de caridade. A primeira de que temos conhecimento foi concedida pelo aviso régio de 5 de Abril de 1803, sendo de trinta contos de réis e dividida em seis mil bilhetes ao preço de cinco mil réis cada um. Os trabalhos desta lotaria eram dirigidos pelo corregedor da comarca, pelo juiz de fora e por mais três indivíduos nomeados pelo governador e capitão-general. A extracção dela deveria realizar-se algumas vezes no ano, mas parece que não chegou nunca a andar a roda. Por diligências do provedor da Santa Casa, o ilustre madeirense Dr. João Francisco de Oliveira, foi feita nova concessão à misericórdia do Funchal em 1823, devendo a receita que produzisse a lotaria ser aplicada a consertos no Recolhimento das Órfãs e a transformar este estabelecimento numa casa de educação de meninas decentes tanto da cidade como das vilas distantes. Tendo a proposta do provedor sido apresentada ao Governo, com informação favorável do Governador, obteve facilmente a Santa Casa da Misericórdia as licenças regias necessárias para a realização da referida lotaria, determinando-se porém que o que esta produzisse seria aplicado em primeiro lugar ao pagamento das dividas da mesma Santa Casa e depois aos reparos de que carecesse o citado recolhimento. Julgamos ter tido pouca duração esta lotaria. Por carta regia de 12 de Setembro de 1857, ainda outra concessão alcançou a Misericórdia, que lhe aproveitou por alguns anos. O prémio grande da lotaria variava muito de valor, tendo sido de 400$000 réis, 500$000 réis, 600$000 réis, 800$000 réis e 1.000.000 réis. Em Maio de 1865, havia 2.400 bilhetes e 488 prémios, sendo os três maiores de 800 e de 200 e de 100 mil réis; e em Janeiro de 1868 era a lotaria de 1800 bilhetes, dos quais 600 premiados, havendo um premio de 400, outro de 100 e um terceiro de 50 mil réis. Cada bilhete custava 1000 réis e os prémios menores eram de 1200 réis. Nos princípios do século XIX, foram os reedificadores do Teatro Grande coadjuvados pelo governo com a concessão duma lotaria anual, cujo prémio grande era de 3 contos de réis, e, na acta da sessão da Câmara Municipal do Funchal de 12 de Janeiro de 1814, faz-se referência a «uma loteria que houve nesta cidade em beneficio dos lazaros», mas nenhuma outra informação podemos colher acerca da mesma lotaria, que, segundo parece, foi promovida pela Municipalidade com o fim de obter meios para melhorar as condições daqueles doentes.

Pessoas mencionadas neste artigo

D. Manuel Agostinho Barreto
Falecido prelado
Dr. João Francisco de Oliveira
Provedor da Santa Casa

Anos mencionados neste artigo

1803
Concessão da primeira lotaria
1823
Nova concessão à misericórdia do Funchal
1857
Concessão alcançada pela Misericórdia
1865
Lotaria com 2.400 bilhetes e 488 prémios
1868
Lotaria com 1800 bilhetes, 600 premiados