HistóriaReligião

Lira (António Veloso de)

Foi um dos mais distintos madeirenses do século XVII. Pertencia a uma antiga e nobre família da freguesia da Calheta e ali nasceu a 14 de Junho de 1616, sendo filho de Manuel Dias de Lira e de D. Mecia Rosa de Couto. Feito nesta ilha o estudo das humanidades, matriculou-se na célebre Universidade de Salamanca, que era então muito frequentada por portugueses. Estava prestes a concluir ou teria já terminado o seu doutoramento em teologia, quando rebentou a revolução que sacudiu o jugo castelhano e pôs no trono o duque de Bragança. Era considerável o número de compatriotas de Veloso de Lira, quasi todos estudantes, que se encontravam naquela cidade espanhola, tendo ele contribuído mais do que ninguém para que todos regressassem imediatamente à sua pátria, afim de se associarem ao movimento de libertação e independência que logo se manifestou em todo o país. A este facto se refere Camilo Castelo Branco no artigo Estudantes Portugueses em Salamanca, inserto no seu livro Coisas leves e pesadas. António Veloso de Lira na obra Espelho de lusitanos faz uma ligeira referência a esse acontecimento, dizendo que se encontravam então em Salamanca mais de quatrocentos portugueses. Dedicou-se ao cultivo das letras e gozou no seu tempo da fama de homem de vasta ilustração. Publicou em 1643 um livro intitulado Espelho de Lusitanos em o cristal do psalmo 43, de que se fêz segunda edição no ano de 1753. Como o padre Antonio Vieira e outros espíritos superiores, não pôde subtrair-se ao gosto dominante da época e os seus escritos estão eivados desse detestável gongorismo, que então infestava a literatura portuguesa e espanhola. Apesar dos seus defeitos, a obra é reveladora de uma inteligência superior e de uma não vulgar ilustração, tendo Alexandre Herculano, ainda por meados do século passado, feito dela largos estractos na revista 0 Panorama. Não sabemos que tivesse publicado outras obras, dizendo Barbosa Machado que deixou os seguintes inéditos: Política Christiana, Zodiacus Ecclesiae, Stella Matutina in medio nebulae, Domus Sapientiae, Philosophia muta, Glosa sobre os Evangelhos e Antiguidades da ilha da Madeira. Depois de uma longa permanência no Continente do Reino, fixou residência na Madeira sendo em 1670 nomeado cónego da nossa Sé e em 1689 elevado á dignidade de cónego magistral. Entre os cargos que desempenhou entre nós destaca-se o de governador deste bispado. Morreu nesta cidade a 4 de Janeiro de 1691 e foi sepultado na capela-mor da Sé Catedral.

Pessoas mencionadas neste artigo

Camilo Castelo Branco
Referiu-se a António Veloso de Lira no artigo Estudantes Portugueses em Salamanca
D. Mecia Rosa de Couto
Mãe de António Veloso de Lira
Manuel Dias de Lira
Pai de António Veloso de Lira

Anos mencionados neste artigo

1616
António Veloso de Lira nasceu
1643
Publicação do livro Espelho de Lusitanos em o cristal do psalmo 43
1670
Nomeação de António Veloso de Lira como cónego da nossa Sé
1689
Elevação de António Veloso de Lira á dignidade de cónego magistral
1691
Morte de António Veloso de Lira
1753
Segunda edição do livro Espelho de Lusitanos em o cristal do psalmo 43

Localizações mencionadas neste artigo

Calheta
Freguesia da Calheta