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Guarda (Frei Pedro da)

Foi Frei Pedro da Guarda um pobre e humilde franciscano, que nasceu em 1435 na cidade de que tomou o apelido e que morreu no convento de São Bernardino, da freguesia de Câmara de Lobos, no ano de 1505. A austeridade da sua vida, as duras penitencias a que se entregava e a pratica exemplarissima, de todas as virtudes cristãs, granjearam-lhe fama de santo, ainda durante a sua peregrinação terrena. Depois da sua morte atribuíram-lhe, por sua intercessão, muitos factos miraculosos, tendo-se promovido vários processos de beatificação para canonicamente se lhe poder prestar o culto dos altares. 0 ultimo foi há cerca de 32 anos e num volume de 163 paginas in-fol. se publicaram vários extractos das principais peças do processo. A Santa Sé nunca chegou a pronunciar-se sobre a canonização, mas os prelados desta diocese permitiram um certo culto publico, que durante séculos não esmoreceu nunca e antes se foi afervorando com o tempo. 0 Santo Servo de Deus, nome por que era conhecido e ainda hoje o é, tinha inúmeros e fervorosos devotos, que de toda a ilha acorriam ao local da sua sepultura a implorar-lhe protecção e socorro para os males de que sofriam.

Na cidade da Guarda viviam João Luiz, tecelão, e sua mulher Agueda Gonçalves, de cujo consórcio nasceu Pedro, no ano de 1435. Aos vinte anos de idade entrou na ordem franciscana, onde professou como leigo, e durante trinta anos esteve em conventos do continente, tornando-se notória a austeridade da sua vida e atribuindo-se-lhe alguns factos prodigiosos. Querendo subtrair-se á admiração que causavam as suas virtudes, pediu para recolher-se na Madeira num convento da sua ordem, o que fez pelos anos de 1485. Procurando um obscuro abrigo no convento de São Bernardino, da freguesia de Câmara de Lobos, ali viveu cerca de vinte anos, tendo morrido a 27 de Julho de 1505. A vida penitente que levou neste retiro e sobretudo os factos miraculosos que se atribuíram á sua intercessão, atraíram as atenções dos seus contemporâneos, como já fizemos notar, formando-se em torno do seu nome uma verdadeira auréola de santidade, que ainda mais cresceu e se avolumou depois da sua morte.

O governador deste bispado António Alfredo Santa Catarina Braga mal chegou a esta ilha em 1835, esforçou-se por apagar os vestígios da influencia exercida pelas ordens religiosas, que tinham sido expulsas no ano anterior. A essa influencia estava ligado o culto prestado, ao Santo Servo de Deus e tratou sem demora de proibir todas as manifestações de carácter religioso em honra do humilde franciscano.

A 2 de Junho de 1835, dirigiu-se Antonio Alfredo ao convento de São Bernardino, acompanhado de vários eclesiásticos e de algumas pessoas de representação social, e procedeu a uma investigação sumaria acerca dos factos prodigiosos atribuídos a Frei Pedro da Guarda, ordenando em seguida que a estátua deste religioso, que ali se venerava, fosse publicamente queimada na sua presença e bem assim outros objectos que serviam nas cerimónias culturis prestadas àquele humilde irmão leigo da ordem franciscana. De tudo fez lavrar um auto no próprio local que é documento cheio de rancores, embora aparente o maior zelo pela integridade da doutrina católica e prestigio da religião. No dia seguinte fez publicar uma provisão em que o culto ao Santo Servo de Deus era inteiramente condenado e proibido, infligindo severas penas aos eclesiásticos que não acatassem as determinações contidas na mesma provisão.

O acto praticado pela autoridade eclesiástica causou grande indignação e escândalo em toda a ilha, não tanto pela proibição do culto, que podia justificar-se á face das leis canónicas, mas pelo aparato e solenidade de que foi revestida, e especialmente pelo auto de fé praticado na imagem do pobre frade, cuja memória não merecia certamente ser exposta a tamanha execração publica.

Parece que o processo de beatificação há poucos anos instaurado, vai prosseguir novamente, sendo possível que num futuro próximo seja decretada pela Santa Sé a prestação de culto publico a Fr. Pedro da Guarda, que o povo só conhece pelo nome de Santo Servo de Deus.

Como acima ficou dito, varias diligências se empregaram no sentido de alcançar-se o decreto de beatificação do humilde franciscano Fr. Pedro da Guarda, sendo a mais importante de todas a que se realiza pelos anos de 1623, cujo processo se encontra ainda em Roma e que chegou a atingir um adiantado desenvolvimento. No ano de 1905, iniciou-se na cúria episcopal do Funchal e prosseguiu em Roma nos tribunais da Santa Sé um novo processo, de que em 1905 se publicaram varias peças avulsas num in-folio de 180 paginas. Este processo, por motivos que desconhecemos, nao teve prosseguimento, estando suspensos os trabalhos de investigação que a tal respeito se tinham ali começado na secretaria das congregações eclesiásticas. No ano de 1864, publicou-se no Funchal um opúsculo, contendo uma biografia de Fr. Pedro da Guarda, extraída das crónicas da Ordem Serafica em Portugal.

Pessoas mencionadas neste artigo

Fr. Pedro da Guarda
Franciscano
Frei Pedro da Guarda
Franciscano nascido em 1435 e falecido em 1505

Anos mencionados neste artigo

1623
Processo de beatificação
1835
Governador António Alfredo Santa Catarina Braga chegou à ilha e proibiu manifestações religiosas em honra de Frei Pedro da Guarda
1864
Publicação de biografia
1905
Início de novo processo

Localizações mencionadas neste artigo

Câmara de Lobos
Freguesia de Câmara de Lobos