Corsa
Veículo de arrasto, de forma rudimentar, usado na Madeira e destinado somente ao transporte de carga. É puxado por bois, ao inverso do que pretendem dicionaristas portugueses, que o dizem movido por gente e usado no transporte de pessoas. Compõe-se simplesmente de uma prancha de madeira, com dez palmos de comprimento e dois de largura, e em cuja extremidade anterior há uma abertura para a passagem de uma correia que a liga á lança, a qual é conhecida pela extravagante designação de solas. A prancha é quasi sempre de madeira de til e algumas vezes de nespereira ou amoreira, a lança ou solas é feita de pinheiro e a canga e os canzis de nespereira ou til. Os bordos da superficie superior da prancha recebem umas tiras de madeira, enquanto a face inferior, que arrasta, é ás vezes forrada de duas chapas de ferro.
É usada nas Canarias sob a mesma denominação, facto interessante que atesta a troca de costumes entre a gente dos dois arquipelagos, em epocas que já lá vão.
O têrmo é o unico - pode talvez dizer-seB genuinamente português, que designa um veículo de arrastar. Julgamo-lo digno de ser aceite como vernaculo, tanto mais que parece derivar-se do latim cursus, e não há portanto razão para o desprezar, substituindo-o, como se faz muitas vezes na propria Madeira, pela palavra zorra, que, na generalidade, deve ser aplicada a certo veículo de rodas e só muito restrictamente a um carro de arrasto.
Tão pouco não o pode substituir o vocabulo trenó, de origem francesa, que significa um veículo sem rodas para andar no gêlo, objecto que de resto não existe no clima das terras portuguesas.
A palavra regional corsa, que parece não encontrar equivalente na lingua, deveria talvez ter foros de nacional e passar á categoria de vernacula, salvo a opinião das boas autoridades.
O Dr. Sloane, que visitou a Madeira em 1687, refere-se á corsa, sendo de crer que este veículo existisse já na ilha nos primeiros tempos da colonização.